O movimento começa a esvaziar, dizem as autoridades. O pessoal tem prestação de caminhão vencendo e o fim do mês está aí. O pessoal da reportagem confundiu luta de classe (greve de trabalhador assalariado ou funcionário púbico) com locaute. Nesta não tem reposição de “dias parados”. Cada um é dono de seu nariz.
De qualquer forma, foi um movimento vitorioso. Os caminhoneiros autônomos ganharam um subsídio no diesel, isenções e franquias. Em São Paulo ganharam gratuidade para uma fração do pedágio, com liberação do eixo suspenso. Nada mais justo: esses pneus erguidos além de não desgastar asfalto já pagaram a conta na ida. Eixo arriado é caminhão vazio na volta. Prejuízo total.
Há muito espaço para comentários e interpretações diante de um movimento que botou de joelhos a oitava (ou sexta? Ou décima?) economia do mundo. Aqui vamos falar do efeito mais simples de todos, que é a derrota comercial dos transportadores (empresas e autônomos) diante de um mercado em recessão. O frete caiu. Os insumos subiram. Inflação baixa é consequência desse excesso de oferta. Economia de mercado.
Os preços dos fretes despencaram levando a categoria à defensiva clássica (no mercado de trabalho formal chama-se “desemprego”). Como diz um caminhoneiro grevista numa declaração aos repórteres do Estado de S. Paulo: “Nosso trabalho virou um leilão, ganha quem topar trabalhar mais barato.”, declara Enaldo Vieira ao explicar que a quantidade grande de motoristas dispostos a trabalhar deixa o valor do frete pago para eles cada vez mais barato. O caminhoneiro (o entrevistado) transporta cargas rápidas, equipamentos hidráulicos e elétricos pelo Nordeste há 10 anos.
O mercado de fretes vive um momento crítico. O período das vacas gordas, a safra de grãos, realizou-se com dólar desvalorizado e petróleo lá embaixo. Quando entra a entressafra, os dois insumos, dólares e barril de óleo no mercado internacional, disparam para cima novamente.
Além disso, a voracidade fiscal atacou com tudo as tetas dessa vaca dócil, a indústria do petróleo. Nada mais fácil do que arrecadar na porta da refinaria. Mercado deprimido, governos falidos, uma receita explosiva. Aí está o resultado.
Outra particularidade é que o movimento se inflamou a partir de conversas de grupos de WhatsApp, que tomou o lugar do facebook dos movimentos de rua em 2013 e do tweeter, que deflagrou a Primavera Árabe. Segundo relata o jornalista Luiz Nassif, quem deu o grito de guerra foi uma caminhoneira de Curitiba, Selma Regina dos Santos, 49 anos, 25 de estrada. Ela lidera três grupos de WhatsApp, sendo o mais numeroso intitulado “Rainha dos Caminhoneiros”.
Diz o caminhoneiro Alexandre Aparício: “A corda chegou no nosso pescoço e, em conversas de WhatsApp, nos organizamos e decidimos entrar em greve. Os sindicatos embarcaram na nossa. Eles vieram procurar a gente. Começamos a greve e eles nos apoiaram depois.”
Outro manifestante, Jaisom Dreher, revelou: Não teve organização central. Fomos nos falando por WhatsApp e aconteceu”. A ágora dos caminhoneiros foram os postos de gasolina, como conta outro do grupo, Manoel Costa Filho: “Nos postos de gasolina, só escutamos o pessoal querendo largar caminhão, querendo mudar de profissão, dizendo que o valor de frete vai quase todo na viagem.” Dessa assembleia virtual à paralização foi um passo. Com isto, formou-se uma massa sem comando central, anulando efeitos de negociações com lideranças que não estavam com as rédeas do movimento.
Bem, então a coisa evoluiu: teclando o celular os carreteiros autônomos foram parando, a Rede Globo lançou um alerta, a população entrou em pânico e a histeria tomou conta do país. Com tamanha corrida, os estoques do comércio (inclusive de postos de gasolina) baixaram rapidamente.
Os transportadores (empresas) que também estão com o caixa apertado, mandaram seus motoristas parar nas barreiras, alegando que seu patrimônio correria perigo. Atitude defensiva.
Não adianta explicar: alguns desses empresários vão conhecer as dependências da Polícia Federal. Alguém tem de pagar o pato. Empresários são a bola da vez.