O Brasil está entrando num corredor polonês; não é conveniente virar saco de pancada da mídia internacional. Certamente foi também isso que motivou à nova ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a comparecer à transmissão de cargo do chanceler Ernesto Araújo. Ele se referiu a ela no discurso, com certeza para dizer que estava anotando o fato de sua presença.
No dia seguinte, também na sua transmissão, Tereza Cristina mencionou as ameaças externas ao agronegócio brasileiro. O entendimento imediato seria que ela se referiria aos países concorrentes, que ambicionam fatias do nosso mercado. Entretanto, não era só isto: ela e deveria estar dizendo que o distanciamento do multilateralismo pode trazer danos irreparáveis à organização do comércio internacional, com efeitos desastrosos sobre os mercados de commodities e, mais ainda, de outros produtos primários.
Críticos ferozes da nova situação brasileira, fortemente postados na mídia internacional, nos órgãos de controle, nos organismos de regulação e acompanhamento já estão fustigando fortemente o Brasil. Esse confronto a todo o sistema mundial vai ter sequelas, dizem os especialistas em intercâmbio. O Brasil não poderá transitar impunemente no meio de tanta pancada. Daí a imagem do corredor polonês.
Em artigo recente o engenheiro-agrônomo Xico Graziano advertia: não é só de soja, café, carnes e açúcar que vive o Brasil no mercado internacional de alimentos. Bilhões de dólares vêm de outras exportações, originadas na avicultura, floricultura, piscicultura e outras fontes insuspeitas, como lacticínios ou da improvável horticultura. O agronegócio brasileiro não é só a grande lavoura, mas milhões toneladas (e de divisas) brotam e são colhidas de pequenas e médias propriedades disseminadas pelo país. Esses produtores podem ser bloqueados por campanhas internacionais, denunciados como envenenadores da humanidade.
Vale a pena repetir aqui dados alinhados por Graziano, pois escreveu em publicação especializada, que não chega ao grande público e não atinge a formadores de opinião da mídia convencional, que, assim, fica a repetir informações parciais, ainda associando o agro ao velho latifúndio dos anos 1950, culpado de todas as mazelas nacionais.
O Brasil vende produtos de granja para mais de 50 países (todos pensam que apenas a China compra vegetais no País). Por exemplo: Arábia Saudita, México e Senegal importaram, do Brasil, no ano passado, U$ 65 milhões em ovos, mas já estão comprando o produto processado (agregando valor de mão de obra nacional), como gemas e claras desidratadas e ovos em pó. Que tal?
Outro item surpreendente: A exportação de flores foi o produto agrícola que mais cresceu em 2018, 34% sobre 2017, no valor de oito bilhões de dólares. Foram 400 milhões de hastes de rosas.
E no peixe? 357,6 mil toneladas de filé de tilápias sem espinhos. (crescimento de 223%). Na fruticultura, mesmo sem falar de laranjas e bananas, produtos de que o Brasil frequenta a cabeça das estatísticas mundiais ( somos, sim, uma república de bananas, com muita honra e dinheiro no bolso — o presidente Jair Bolsonaro vem do Vale do Ribeira, grande região bananeira do País), mas também agora pêssegos de Pelotas, Maças dos Campos de Cima da Serra, mamões e uvas de mesa do Vale do São Francisco, vinhos finos da Serra e da Campanha gaúchas, e assim por diante. Tudo pode vir por águas abaixo por razões de imagem e de bloqueios ambientais.
Era disso, também, que falava a ministra Tereza Cristina. Técnica qualificada, líder do segmento mais adiantado do ruralismo, gestora pública experimentada (no segundo maior produtor do País, Mato Grosso do Sul), ela não está espantando fantasmas. Isto é o que advertem os profissionais do ramo. Um eito de sensatez.