O Brasil vai reencontrar a unidade entre as forças sociais, intelectuais, políticas e econômicas capazes de repor o Brasil no rumo do desenvolvimento e dar prosseguimento de construção de uma civilização que Darci Ribeiro e Gilberto Freire consideraram diferente e boa para o mundo.
A avaliação otimista é de Aldo Rebelo, ex-ministro dos governos de Lula e Dilma, em entrevista ao jornalista Roberto D´avila, da Globo News da última terça-feira, 24.
Aldo Rebelo acredita que a solução para superar a divisão do Brasil – que leve ao imobilismo, ao desperdício de energia e de inteligência – é um entendimento entre agentes políticos, econômicos e sociais.
“Hoje, temos que retomar o processo de alianças heterogêneas, buscar as instituições de estado que ainda restam como alguma capacidade de regenerar as nossas dificuldades, como as próprias Forças Armadas. Não no sentido de participação política”, disse Rebelo, ao se referir a este tipo de aliança entre contrários, como no caso da Independência, Proclamação da República e Revolução de 1930, entre outros.
“É que nós acumulamos uma série de erros e o País vive momento de desorientação, mas acho que este momento vai passar”, diz Rebelo com a bagagem de quem já ocupou a Presidência da Câmara Federal, já exerceu quatro vezes o cargo de ministro nos governos de Lula e Dilma e cumpriu 6 mandatos de deputado federal.
Ele diz que o Brasil tem problemas sociais graves, mas que estão no alcance de serem resolvidos assim como os desequilíbrios regionais.
Aldo Rebelo fez criticas ao governo de Jair Bolsonaro, especialmente na condução da política externa. “Agora nós temos uma diplomacia que, ao invés de resolver problemas, cria problemas com nossos vizinhos”. E acrescentou mais adiante que “a nossa diplomacia tem sido uma diplomacia quase patética neste sentido”.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
Globalização
O Brasil não apostou no processo, ficou com a pior parte da globalização, que significou a desregulamentação financeira, as privatizações e a perda de oportunidade no salto da tecnologia. O Brasil ficou defasado neste aspecto.
Trajetória política no PC do B
Meu pensamento continua o mesmo que me levou a militar nas fileiras do PC do B durante 40 anos. Sou do interior do Nordeste. Minha educação e formação foram marcadas por um processo de apreço pelo Brasil, pela historia e memória do Brasil.
A minha convicção é de que a esquerda foi se afastando desta agenda dos direitos amplos e coletivos. Trocou por uma agenda de costumes e direitos individuais. Ou seja: uma agenda que não vale pelo interesse comum, vale pelo interesse de grupos representados por raça, gênero ou coisas parecidas. Isso me levou a um afastamento, porque minhas teses que talvez tenham ficada assim antiquadas.
Corporações
Nunca fui vinculado a uma corporação nos meus mandados eletivos. Acho que estas corporações, principalmente ligadas ao Judiciário de primeiro grau, Ministério Público, reproduzem hoje uma luta pelo poder. Ou seja: é como se estas corporações se julgassem mais aptas por mérito a dirigir o destino humano e o destino nacional do que a política.
Constituição
Quando nós saímos do regime militar, setores liberais, tanto os mais conservadores, quanto os de esquerda, queriam uma espécie de vacina contra a influência de uma outra corporação, que era a corporação militar.
A vacina era empoderar a corporação civil que neutralizasse a influência militar no estado. Assim, foi criado Ministério Público com atribuições que não tem no mundo.
Temos um judiciário que não tem nenhum tipo de controle. A maior punição que se dá a um juiz , por mais grave que seja o crime que ele possa a ter cometido, é a aposentadoria com salário integral. Da mesma forma como o Ministério Público.
São instituições acima da sociedade. Acho que isso foi feito na época como um sentimento diria de revanche, mas por incompreensão sobre o papel dos militares do Estado. Você não pode ter um democracia no País funcionando onde duas corporações tenham este tipo de influência.
Atribuições do presidente
Agora, quando o governo decidiu mexer na PF, indica procurador fora da lista do Ministério Público, teve uma reação muito grande. O Ministério Público se acha no direito de interferir na política. Adotam decisões que tem influência na política, mas acham que a política não tem direito de ter influencia sobre elas.
A Constituição está certa. É uma prerrogativa da Constituição que o presidente escolha o chefe do Ministério Píblico. Não pode se transferir esta prerrogativa constitucional a uma entidade privada, que é uma associação dos promotores e integrantes do Ministério Público. Se o presidente usa o critério de um jeito ou de outro para escolha, você pode discutir o critério do presidente, mas não pode discutir a legitimidade da prerrogativa presidencial.
Governo Bolsonaro
Vejo o governo com muitas preocupações pelo conjunto de erros que tem sido cometidos em áreas importantes. José Bonifacio conseguiu reconhecimento da nossa independência. A grande tradição do nosso Itamaraty, com Visconde do Uruguai e Rio Branco. Rui Barbosa elevando o nome do Brasil na Conferência de Haia.
Saraiva Guerreiro preparando o discurso de João Figueredo na ONU em 1982. Agora nós temos uma diplomacia que ao invés de resolver problemas, cria problemas com nossos vizinhos contrariando a Constituição. Contrariando o documento mais importante de defesa do Brasil.
Criando confusão com a Venezuela, com a Argentina, com os árabes, com a China. Se aliando de uma forma que não é aliança de estado. É uma aliança com um presidente que amanhã pode não ser mais presidente. Nós estamos reduzindo a quase nada todo o legado a memória de uma diplomacia respeitada e admirada em todo o mundo.