Acabou-se o trigo I. Câmara e Senado decidiram instalar a CPI da JBS. Como se houvesse corrupção sem corruptos. Pune-se os magarefes goianos, mas preservam-se todos os parlamentares que se lambuzaram no dinheiro farto desviado de bancos públicos e fundos de pensão?
Acabou-se o trigo II. E se os irmãos Batista e seus diretores depuserem? Poderão falar de todos os beneficiários da propina, inclusive a que abasteceu deputados e senadores? Como se dizia lá em Canoas, é o roto falando do rasgado.
A manchete esfumaçou. Sem as incendiárias depredações em prédios públicos da Esplanada dos Ministérios, as manifestações das centrais sindicais na quarta, 24 de maio, produziriam manchetes destacando o “fora, Temer” e “abaixo as reformas”. Graças aos arruaceiros profissionais – incentivados, consentidos ou tolerados -, pouco sobrou do intuito inicial. Fora os R$ 5 milhões que o Governo pretende cobrar das centrais sindicais pelo vandalismo com o patrimônio público.
Adeus, 2018. Além de, no mínimo, retardar a tramitação das reformas previdenciária e trabalhista, a JBS pode ter brecado a recuperação da economia. Um ano de governo Temer produziu inflação controlada e juros em queda. Havia sinais de retomada do emprego e de investimentos. Pode ficar tudo para 2019 a um custo muito mais alto.
Missão impossível. Brecar a Lava-Jato, como parece ser a missão do novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, pode ser o caminho fatal para o presidente Michel Temer. Os procuradores, delegados e juízes da Lava-Jato têm credibilidade; o Governo não tem quase nenhuma.
É o que tem I. Eleição direta (inconstitucional) agora, além de intempestiva e onerosa, é arriscada quebra de preceito constitucional, pois implica o precedente de que crises se resolvem mudando as regras no meio do jogo. Eleição indireta (constitucional) muito provavelmente entronizará um presidente com as feições doentias do atual Parlamento. Não há solução boa, simplesmente porque a situação do Brasil é péssima.
É o que tem II. Um dos argumentos contra a eleição indireta recai sobre a baixa qualidade do Congresso Nacional. Nenhum deputado e a maioria dos senadores (tirante os suplentes) chegou ao Parlamento a pé. Muitos foram reeleitos, em pleitos livres, secretos e universais, mesmo depois de denunciados por corrupção e outros malfeitos.
É o que tem III. Em alguns estados, oligarquias eleitas perpetuam a miséria há 50 anos. Apesar disto, o eleitor exerce seu direito de manter os mesmos maganos no poder. Não é possível esquecer que Dilma Rousseff e Michel Temer foram eleitos e reeleitos presidente e vice.
É o que tem IV. O Legislativo e o Executivo podem ser desinfetados nas eleições gerais de 2018. Basta tirar os suspeitos de sempre e eleger brasileiros honestos e capazes. O Judiciário e o Ministério Público, exaltados em tempos de Lava-Jato, continuarão com as regalias e a inacessibilidade de sempre.