Não são normais I. Não poderia ser diferente a manifestação do juiz Sérgio Moro sobre a audiência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 13ª Vara Federal em Curitiba. Disse o magistrado que se trata de “ato normal do processo”, opinião que ganhou adeptos. Mas eis que não.
Não são normais II. Lula se enquadra entre os principais personagens da história do Brasil. O País de hoje seria outro sem o pernambucano de Garanhuns. Moro tornou-se protagonista de um dos maiores processos contra a corrupção do mundo. Como seu desafeto, virou celebridade internacional. Nenhum dos dois é cidadão comum, tampouco o são seus atos. Neste caso, a história se sobrepõe à lei.
Não são normais III. Moro está mudando o curso da história brasileira deste começo de século XXI. Lula já mudou a história e pode convulsionar o País caso seja encarcerado pela Justiça, mesmo que não se predisponha a atiçar as turbas fiéis ao lulismo. Parafraseando o caricato personagem do ator Francisco Milani, eles não são normais.
Propaganda proibida I. O que leva um jogador de futebol a tal ponto milionário que poderia viver sem trabalhar o resto da vida a tornar-se vendedor de cerveja? Duas constatações e uma tese. Primeiro, álcool e esporte não combinam. Segundo, e mais deletério, um craque de dimensões globais exerce enorme influência sobre as pessoas, sobretudo os mais jovens. Uma aposta: ganância.
Propaganda proibida II. Nestes tempos de reformas, bom gancho para rediscutir a restrição de publicidade de bebidas alcóolicas. Afinal, não parece lícito estimular o consumo de uma droga nos meios de comunicação.
Vox populi, vox dei. Os que se opõe a reforma da previdência e esgrimem pesquisas de opinião em sua defesa devem ser coerentes. Assim como enquetes indicam que a maioria dos brasileiros é contra mexer na previdência, há outras indicando que o brasileiro é a favor da redução da maioridade penal, contra a legalização da maconha e a do aborto. Há, ainda, forte oposição ao casamento de pessoas do mesmo sexo. E, se é justificável apear Michel Temer do poder dada a sua impopularidade, Dilma Rousseff deveria ter saído antes.
Bem-sucedida, mas não geral I. O debate sobre o alcance da greve do último dia 28 contra as reformas previdenciária e trabalhista aflora paixões e, em consequência, afasta a racionalidade – atributo este rarefeito no diálogo de moucos que vivenciamos. Não há dúvida quanto a sua abrangência nacional, mas qualificá-la como geral pode ser exagero.
Bem-sucedida, mas não geral II. Há um impeditivo basilar para assim qualificá-la: os trabalhadores não forem livres para escolher ficar em casa ou trabalhar, já que os meios de transportes públicos ficaram indisponíveis. Além disso, justificar que o objetivo não era promover grandes manifestações é falacioso, já que, para haver tais protestos, seria necessário transporte público. Mas, se houvesse transporte público, os cidadãos estariam livres para se deslocar aos locais de trabalho. Melhor era não arriscar.
Bem-sucedida, mas não geral III. Por fim, trata-se de uma mobilização com forte apelo. Em todos os países democráticos que se dispuseram a reformar suas previdências, as manifestações contrárias foram grandiosas, muitas vezes violentas. Afinal, todo o mundo sonha com o descanso remunerado.
Dogmas dispensam argumentos I. Assim como a esquerda fundamentalista, a direita raivosa escolhe alcunhas para simplificar o discurso – ou vice-versa. Com isto, afasta o debate alicerçado na razão. Comentarista assumidamente direitista pregou que todos se enganam com Emmanuel Macron, presidente francês eleito. Ele não seria de centro, mas de “esquerda”, concluiu. E daí? A diatribe equivale ao discurso da sinistra ao vociferar que todos que a ela se opõe são “fascistas”. Acusações que se prestam a interditar qualquer debate. Ou por falta de argumentos, ou por apego a dogmas; que, por dogmas, dispensam argumentos.
Dogmas dispensam argumentos II. Noves fora o anacronismo de se rotular esquerdista ou direitista.