Enquanto executava seu serviço, o sujeito escutava o rádio que eu mantinha em volume alto irradiando as notícias matinais, uma mania de infância. Entre elas, o destaque era a operação Carne Fraca, da Polícia Federal.
Desinibido, ele puxou conversa sem deixar de trabalhar. Ou melhor, destravou sua opinião, mesmo sem ser consultado.
“Isto era uma vergonha”. “Não se podia confiar em mais ninguém”. “O pessoal vai deixar de comer carne”. Etc.
De fato, o caso é muito grave. Mas pode ter havido algum exagero da PF em alguns aspectos, ponderei.
Mencionei o noticiário, que apresentava senões em relação à proporção das denúncias dos investigadores, até mesmo alguns equívocos. O papelão podia ser para embalagem, etc.
“Não, não. A Globo até entrou nesta, mas é pra defender o frigorífico, que faz propaganda lá”, objetou. “Além disso, foi a Polícia Federal que denunciou. Deve estar certo”.
Percebi que o técnico, chamado para um serviço em domicílio, tinha um parâmetro difícil de refutar. Se foi a PF que denunciou, denunciado está.
Afinal, entre com um Governo impopular, um Congresso que só pensa naquilo, um Judiciário que retarda julgamentos de maganos até prescreverem, uma imprensa que só reproduz… sobra quem? “Se foi a PF que disse, deve estar certo”.
Paguei pelo serviço, despedi-me e voltei ao radinho de pilha. Afinal, parafraseando Fabiano, herói mambembe de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, “autoridade é autoridade”.