O presidente Michel Temer deixará a Presidência da República menos injustiçado do que creem seus aliados, mas mais injustiçado do que detratam seus adversários. Contra a tendência simplificadora das análises sintéticas das redes sociais, muitas ações na política não são preto no branco.
Os 65% dos brasileiros confiantes de que a economia vai melhorar em 2019, conforme pesquisa Datafolha revelada neste domingo, 23, devem parte de seu otimismo a Temer. O capitão-mor Jair Bolsonaro não partiria de uma base alvíssara caso Dilma Rousseff tivesse completado o segundo mandato.
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Antes de analisar o legado temerista, é preciso recordar que sua trajetória presidencial seria mais bem-sucedida não fossem as ações de Joesley Batista e Rodrigo Janot. Joesley é aquele magarefe que convenceu jornalistas a chamar matadouro de fábrica de proteína animal.
Janot é o afoito procurador que, numa tacada, (1) chancelou o mais escandaloso acordo de deleção premiada do mundo visando deixar solto um corruptor confesso e (2) detonou uma reforma da previdência, cujo objetivo era evitar o colapso das contas públicas e acabar com privilégios. Como as bilionárias regalias de procuradores e juízes.
Com um acordo acertado à velocidade da luz, (3) Janot, embora não fosse juiz, absolveu um criminoso confesso. Ou seja, investigou e inocentou ao mesmo tempo. Um contrassenso jurídico.
Meliantes do erário
Nada disso, entretanto, teria acontecido caso Temer tivesse se esquivado de encontros noturnos com meliantes do erário – no caso, o magarefe. Como resultado, a noite de 7 de março de 2017 foi fatídica não apenas para Temer, mas para reformas como a da previdência, que estava engatilhada, mas gorou.
“O capitão-mor Jair Bolsonaro
não partiria de uma base alvíssara
caso Dilma Rousseff tivesse
completado o mandato.”
Temer é um político comum. Habilidoso no jogo partidário, valeu-se das mesmas práticas condenáveis de PT, PSDB e MDB, sua legenda, conforme revelaram à larga a Polícia Federal e o Ministério Público – mais das vezes ratificadas pelo Judiciário.
Na administração pública, adotou postura diferente do PT, que estacionou no século XIX. Percebeu que responsabilidade fiscal e privatizações não são coisa dos inimigos da classe operária. Ao contrário, são princípios que, aliados a outras ações, ajudam a diminuir as desigualdades.
Assim, se a herança de 13 anos do PT de Dilma Rousseff foi maldita, a de Temer pode pavimentar a retomada do crescimento econômico. Ele pegou o País na mais grave recessão da história e vai entregá-lo no rumo da solvência.
Temer deixará ao sucessor inflação controlada e juros baixos para os padrões brasilianos. Não é pouco.
Imunidade barnabé
No seu mandato-tampão, aprovou o teto de gastos. A regra, elementar do ponto de vista da administração hígida, expôs as iniquidades do nosso sistema.
As administrações públicas, nas três esferas, têm se transformado numa máquina de sustentar privilégios de servidores públicos e custear generosas aposentadorias a barnabés, imunes às intempéries do sobe-e-desce da economia. A regra desnudou um Estado que parece ter um único objetivo: sustentar a própria máquina e os privilegiados que a operam.
Neste sistema, dane-se o usuário final, o cidadão que paga impostos. Ou os que não pagam porque não têm renda.
O debate em torno do teto de gastos mostrou, ainda, que há empresários e empresários. Alguns têm que ralar para bancar a carga tributária asfixiante. Outros, beneficiários das desonerações fiscais, possuem vantagens reiteradamente prorrogadas pelo Governo e pelo Parlamento.
A polêmica reforma trabalhista, por seu turno, não provocou o colapso no emprego anunciado pelos sindicalistas. Mas tampouco mostrou sua eficácia. É preciso esperar para ver suas consequências.
Temer pautou as parcerias com a iniciativa privada e as privatizações. Do estado gigamenso e controlador da era petista, o Brasil pode rumar à era do estado enxuto e que se meta menos na vida das pessoas.
Problemas de sobra
Há problemas? De sobra. A prática da corrupção seguiu em alta nas esferas políticas. A violência, como assassinatos e estupros, continua integrante fúnebre da vida dos brasileiros.
A proteção ao meio ambiente foi escanteada. Os direitos humanos continuaram sendo agredidos.
O buraco nas contas públicas ainda é bilionário. Fosse a União uma empresa privada já teria falido. Mas, pelo menos, foi estancado e, apesar das pautas-bomba do Congresso Nacional e das sentenças-bomba da Suprema Corte, a indicação é de queda.
Futuro no pretérito
Quem quiser ler um amplo balanço da célere Era Temer pode consultar a página do Ministério da Fazenda. Fato é que o presidente Jair Bolsonaro assumirá o mandato, em janeiro de 2019, em condições melhores do que as herdadas por Temer, em agosto de 2016, quando tomou posse plena da Presidência.
“Há brasileiros cansados
de viver no país do futuro,
mas que jaz eternamente no passado.”
O que o novo mandatário vai fazer com a herança temerista serão outros quinhentos. O caminho foi aberto e a receita para voltar a crescer está posta.
De resto, há partidos de oposição, que querem retomar o poder e, para tanto, torcem para que tudo dê errado, e de situação, que pretendem continuar sugando o erário em benefício próprio. E há brasileiros cansados de viver no país do futuro, mas que jaz eternamente no passado.