A definição das coligações para o pleito de 7 de outubro confirmou a tendência monopolista do PT de Lula. Num momento que pode se caracterizar por uma inflexão histórica, a sigla interditou o debate na esquerda conservadora.
Em parte, a decisão se dá por absoluta falta de opção. Não existe outro mito como Lula, preso há quatro meses em Curitiba acusado de corrupção pela Lava-Jato.
Assim, em boa dose, o viés eleitoral se sobrepuja ao ideológico. Hoje, a meta exclusiva do partido é a soltura da ideia nascida em Garanhuns.
Por outro lado, trata-se de estratégia para fugir do debate crucial nesses tempos de rejeição à velha política, representada pela tríade PSDB, PT e MDB. Estratégia que, na chamada esquerda, interessa basicamente ao PT.
Hegemonia petista
Para além de se esquivar a encarar seu declínio moral, o PT bloqueia o debate sobre os rumos da esquerda conservadora. O tamanho do Estado, a aliança com regimes autoritários, a importância do equilíbrio fiscal, as novas relações de emprego do século 21.
Dentro da esquerda há formuladores que não se aferram a conceitos forjados no século 18, quando o capitalismo ainda não havia inventado a internet e os smartphones. E quando as relações de trabalho eram distintas.
Há pensadores que perseveram na defesa da igualdade de oportunidades, dos direitos humanos e do bem-estar social. Mas que descreem dos velhos caminhos da seita em que se transformou o PT.
A partir da falência da velha política, eviscerada pela Lava-Jato, é chegada a hora de repensar seus equívocos morais e ideológicos. Os que não desaprenderam a refletir e a questionar, como os apóstatas do esquerdismo anacrônico, estão prontos para o debate.
Debate interditado pelo pouco questionado monopólio do PT. Como fez Carlos Siqueira, presidente do PSB. Realista, ele reconheceu o caráter essencialmente pragmático do acordo eleitoral com o PT.
Usou de um eufemismo. Trata-se de monopólio, como o de implodir qualquer liderança ou ideia nova que não passe pelo crivo majestático de Lula.
Fundamentalismo ideológico
A “reciclagem”, desejada pelo líder do PSB, é barrada pela cunha imposta a todos que orbitam ao redor do PT. Nascido sob o signo da ética e do fundamentalismo ideológico, o partido perdeu a primeira e manteve o segundo.
Ao mesmo tempo em que se rendeu a desvios bilionários do erário para financiar sua hegemonia – e o enriquecimento de alguns companheiros -, flerta com o autoritarismo. No lugar de se inspirar em países onde a desigualdade é reduzida, apoia ditaduras como Cuba e regimes autoritários como os da Nicarágua e Venezuela.
Com o objetivo de antagonizar os EUA, bandeira herdada da Guerra Fria, condena Israel, democracia solitária no Oriente Médio.
Ao mesmo tempo, apoia os vizinhos israelenses, quase todos totalitários, homofóbicos e misóginos.
“Os que não desaprenderam a refletir e a questionar,
como os apóstatas do esquerdismo anacrônico,
estão prontos para o debate“.
Persiste no apoio ao estatismo, que perpetua estatais deficitárias, comercialmente amarradas pela legislação e reduto de pelegos endinheirados. Inibe o empreendedorismo, como se empresários fossem inimigos – tirante os escolhidos pela Bolsa BNDES.
O PT não se questiona e não deixa questionar. Ao transformar sua ideologia em credo deixou de ter militantes e passou a ter sequazes.
A eleição de 2018 guarda semelhanças com a de 1989. Um momento de inflexão da vida brasileira é um destes traços em comum.
Naquela ocasião, os eleitores se deixaram encantar pelo mito do caçador de marajás e sua pauta moralista. O mito atual pode conduzir o Brasil de volta ao conservadorismo do pensamento esquerdista.