A insanidade dos presidenciáveis que rejeitam a reforma das aposentadorias

A reforma da previdência é um dos passos essenciais para evitar o colapso dos cofres públicos. Paralelamente, mas não menos importante, corrigiria (a longo prazo) uma injustiça, onde os que ganham muito menos sustentam as superaposentadorias do funcionalismo, que ganha muito mais.

Na verdade, o colapso fiscal já é realidade. Um país que planeja um déficit de R$ 159 bilhões (para 2017 e 18) já está em default.

De acordo com dados do IBGE divulgados na última quarta, 50% vivem com R$ 747 por mês. São mais de 44 milhões de pessoas. No outro extremo, 889 mil pessoas (1% da população) tiveram rendimento médio de R$ 27 mil mensais. Diferença de 36 vezes entre piso e teto.

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Por medo ou compadrio com as corporações e pelo receio de ser apontado como aniquilador de direitos, boa parte de deputados e senadores adota postura pusilânime. Prefere recitar o demagógico discurso de que defende os trabalhadores.

Como se a reforma fosse uma jabuticaba. Não é. Ela é consequência do welfare state, um sonho que tem custos.

Jogo bagunçado

Ninguém que conheça aritmética e atuária duvida da necessidade de reformar a Previdência Social. No entanto, boa parte prefere rejeitá-la ou jogá-la para o futuro. Outros, cínicos, pregam que a pensão dele é justa; a dos outros é que deve mudar.

Quando chegou ao Parlamento, a reforma original gestada na Fazenda do ministro Henrique Meirelles continha perversões contra imensa base da nossa pirâmide social. Aos poucos, os parlamentares limaram a proposta governamental.

Maldades contra o BPC e os trabalhadores rurais foram sacadas do texto. Sobrou basicamente a essência da reforma: a implantação progressiva da idade mínima e a regra que torna o descanso remunerado um direito igual para todos.

Para além dos parlamentares, os presidenciáveis também espanam a oportunidade de aprovar agora a proposta. Como captou a divergente Helena Chagas, mesmo quem a defende bagunça o jogo ao misturar reforma com sucessão presidencial.

A postura dos presidenciáveis pode reluzir alguma lógica eleitoral, mas na verdade esconde uma insanidade uterina para quem a política é apenas o jogo de se fixar ad aeternum no poder. Revela, assim, a pequenez dos que assim fazem política.

Bomba-relógio

Um presidenciável que adota esta postura está jogando no seu próprio colo a bomba-relógio que vai estourar as contas públicas. Se houvesse racionalidade na política, qualquer presidenciável com possibilidade de assumir o Palácio do Planalto trabalharia – mesmo que tergiversando – para que o atual Parlamento aprovasse a reforma.

Assim, deixaria a paternidade das mudanças para Michel Temer. Quem assumisse, em 2019, herdaria o prato feito. Bastaria servi-lo.

A “maldade” seria do reformista Michel Temer, presidente que não tem mais popularidade para queimar. Os cofres menos desequilibrados ficariam com seu sucessor.

Como? Quem conhece o jogo político sabe que é possível ser contra sem sê-lo.

Há duas formas de se opor a um projeto. Trabalhar com afinco para derrotá-lo. Ou exibir oposição retórica, deixando de sacar todo o arsenal disponível.

Tem também a opção de apoiar abertamente a reforma, sem tergiversar. Mostrar ao eleitor que campanha eleitoral não é pacote dourado de promessas falsas, como assistimos em 2014.

De qualquer jeito, aprovar a reforma agora tornará mais fácil a vida do futuro presidente. Uma difícil tarefa a menos.

Sem a reforma, quem assumir em 2019 terá duas opções. Aprovar depois, num quadro crescente de fragilidade fiscal, o que pode ser feito agora por Temer, ou adotar a demagogia, fazendo de conta que o erário e a previdência estão sadios.

Não há solução fácil. O cancro está exposto. Extirpá-lo será dolorido, mas é a alternativa para quem almeja um futuro mais equilibrado do ponto de vista fiscal e socialmente menos injusto.

O NOME DISSO É MÚSICA: Liszt / Schubert

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