Em artigo publicado na revista Veja semana passada, o juiz Sergio Moro defendeu as longas prisões da Lava-Jato. Segundo ele, as críticas aos prolongados encarceramentos em Curitiba devem-se aos “presos ilustres”
No Brasil, há muito presos provisórios mofam em celas país adentro. Pior. São amontoados em masmorras fétidas e superlotadas. Bem diferente do tratamento dado aos “ilustres” meliantes do erário alcançados por Moro.
Levantamento do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) divulgado pelo G1 neste fim de semana reforça a conclusão do sufeta de Curitiba. Há quase 245 mil presos provisórios no Brasil. Culpados ou não, é gente anônima, muitas vezes sem acesso sequer a rábulas.
O dado, que não é novidade para quem percorre os corredores das penitenciárias, leva a outro aspecto tangenciado por Moro em seu longo artigo. Até que ponto a asfixia da falta de liberdade – ou a perspectiva da falta dela – contribuiu para as inúmeras delações?
Ou Marcelo Odebrecht teria aceitado contar o que sabe sobre a roubalheira promovida na Petrobras sob os auspícios dos governos do PT se estivesse acomodado em sua mansão, cercado de advogados e canapés? A resposta, seja qual for, embute outro privilégio.
Como se sabe, os procuradores estão sempre dispostos a oferecer acordo de delação premiada aos maganos da Lava-Jato. A iniciativa tem livrado do encarceramento muitos desses meliantes, impelidos, então, a habitar mansões incrustadas em condomínio de luxo.
Enfim, é a prisão prolongada que leva à delação, ou ela aconteceria de qualquer jeito diante do horizonte condenatório? Um conciliador diria que “há males que vem para o bem”. Um cínico, que se trata de um dilema, pois, às vezes, só a pressão (que pode ser física, no caso da ralé) leva o malfeitor a confessar.