O governador Eduardo Leite (RS) quer ser presidente da República. Para este objetivo, o gaúcho precisa de uma legenda partidária, exigência constitucional. Seu atual partido, o PSDB, negou-lhe esta oportunidade.
- LEIA TAMBÉM: Anacrônico, duelo esquerda x direita gera ilusões
Surgiu, então, o PSD, presidido pelo ladino Gilberto Kassab (SP). O pesedista tem sugerido reiteradamente que sua legenda terá candidato à Presidência da República e que Leite é a segunda opção, caso o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) desista de concorrer.
O casamento estaria apalavrado não fosse um dos parceiros. Kassab, como resumiu a jornalista Helena Chagas, d’Os Divergentes, é um “ilusionista”. Os melhores prestidigitadores criam suspense até o desfecho.
Kassab é um experiente ator no cenário político nacional. Leite fez política até aqui restrita ao Rio Grande do Sul, estado com balizas políticas peculiares. Com 36 anos, foi vereador, prefeito e governador. Tem um índice de aprovação mediano, a simpatia da mídia tradicional e a aparente boa vontade de alguns empresários e economistas (graças às posições liberais que ostenta).
Já aprendeu a dizer e desdizer-se – padrão na política brasiliana. Em si, a aliança que fez com o bolsonarismo em 2018 não é um problema dada a flexibilidade da política patrícia. A questão é se seu oportunismo para garantir uma vaga no Palácio Piratini é traço predominante em suas ações ou foi uma avaliação equivocada, já que Jair Bolsonaro nunca foi democrata nem liberal. As duas hipóteses são negativas para o currículo do pré-candidato.
Cancha reta
Não são, porém, suas características ou aptidões determinantes para cacifá-lo a presidente da República. Um país cujos eleitores elegeram o capitão-mor antidemocrata e um caçador de marajás farsante, e pode reconduzir ao Palácio do Planalto um partido com extenso prontuário (como o Mensalão e a Lava-Jato), elege qualquer um.
Se ungido pelo PSD, caberá a Eduardo Leite ocupar o lugar restante na cancha reta eleitoral, o de Bolsonaro, já que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem, há décadas, eleitorado cativo. Esta estratégia eleitoral foi exposta pelo cientista político Antonio Lavareda em entrevista ao jornalista Cristian Klein: “A única chance é de substituir o bolsonarismo”. Numa eleição que entrará numa escalada polarizadora, é pouco eficiente bater nos dois mais queridos pela opinião pública. “A lógica […] é desalojar o Bolsonaro do segundo turno”.
Caso emplaque sua candidatura, Leite terá ao seu lado um estrategista respeitado. Kassab é reconhecido pelo seu faro de poder. O que não se sabe é se o jovem político vindo do extremo sul do País vai ser ele mesmo o moderado desconhecido a cravar uma cunha nos extremismos que incendeiam o Brasil (nos dois lados há, por exemplo, apoiadores do autocrata Vladimir Putin) ou uma escada para que o PSD permaneça onde quase sempre esteve, no Poder Central.
O NOME DISSO É MÚSICA: Chick Corea, Keith Jarrett & Wolfgang Amadeus Mozart [música a partir de 1m55s]