Uma das consequências do declínio dos 13 anos de governo do PT (Partido dos Trabalhadores), quando a política e a economia no Brasil foram conduzidas pela esquerda, foi o ressurgimento da direita. Envergonhados, direitistas antes se autoenquadravam como de centro.
Poucos tinham coragem de se alinhar no campo da direita, como o renomado economista e diplomata Roberto Campos. Pensador destro, Campos assinou a apresentação de O Ópio dos Intelectuais (1955), de Raymond Aron, na edição em português de 1980, obra cujo alvo era descontruir o pensamento da sinistra.
Levantamento recente d’O Estado de S. Paulo, centenário matutino brasileiro, aponta que a timidez transmutou-se em desinibida militância. As redes sociais – sempre elas – impulsionaram este contingente que nunca deixou de existir, pois atávico em nossa história.
Impulsionada pelos 21 anos da ditadura militar de direita no Brasil (1964-1985), a esquerda tomou conta das academias, do mundo artístico e do pensamento politicamente correto. Sua hegemonia se impunha no patrulhamento de qualquer pensamento divergente.
Até hoje a sinistra classifica os apoiadores do impeachment da presidente Dilma Rousseff (2011-2016) de “fascistas”. Porém, o rótulo que antes amedrontava hoje é encarado com chacota.
Destaque-se que Rousseff (PT) foi deposta em 2016 por ampla maioria das duas câmaras do Parlamento brasileiro. Para tanto, teve o respaldo dos 11 ministros da Suprema Corte (a maioria indicada pelo PT, inclusive ex-militantes petistas) e da maior parte da população, que saiu às ruas para pedir seu afastamento – o que não indicava apoio ao então vice-presidente Michel Temer, hoje no comando da Nação e igualmente impopular.
A deposição da mandatária, após um longo processo jurídico, baseou-se em bilionária fraude fiscal. Entre outras mazelas, o período Rousseff legou a maior recessão econômica da história do País, a regressão de quase 10% do PIB per capita, inflação de dois dígitos e quase 13 milhões de desempregados – afora um colossal esquema de corrupção desvendado pela Operação Lava-Jato, conduzida pela Polícia Federal e o Ministério Público.
Gays e liberais
Um dos aspectos mais curiosos da nova direita é o descolamento do pensamento econômico liberal dos costumes. Os mesmos que defendem o livre mercado e as privatizações são favoráveis ao casamento gay, por exemplo.
Enquanto preserva à larga em suas fileiras antigos costumes reacionários, a nova direita tem entre seus protagonistas um militante negro homossexual. Assim, até aqui, uma das diferenças entre o que se convencionou chamar de esquerda e de direita é o pluralismo.
No século XXI, a sinistra persiste com os mesmos dogmas centenários; já a destra é multifacetada. O que une direitistas é a rejeição ao pensamento conservador da esquerda.
Não se engane, porém. Os dois grupos preservam raízes e força na sociedade brasileira. Ambos estão desnudos e armados para o confronto.
É dessa mixórdia que deverá surgir um novo Brasil, para o bem ou para o mal. Tal como na perplexidade político-econômica do restante do planeta, ninguém nesta parte do globo sabe onde isto vai dar. Se alguém disser a você que sabe, acredite, está mentindo.
Publicado em inglês no site Brazil Monitor, dirigido ao público externo.