Depois da Folha e da Globo, é Veja que dá uma mãozinha ao PT

A mídia tradicional é odiada pela dupla antagônica Lula-Bolsonaro, bem como pelos seguidores de ambos. Primeiro, porque exaltou a cruzada anticorrupção da Lava-Jato. Agora, porque aponta seus defeitos ao dar espaço à Vaza-Jato

Uma das características deste primeiro quinto do século XXI é a polarização política exacerbada. De tal maneira que a refrega se espraia à economia, à intimidade das famílias, às relações de trabalho e, claro, à imprensa.

Defenestrar jornalistas não é novidade. Honoré de Balzac, em Ilusões Perdidas, no século XIX, alcunhava as redações de “lupanares do pensamento”.

Numa sequência frenética de colóquios, Balzac definia o fascínio que jornais exerciam sobre jornalistas. “Você ficará de tal modo encantado de exercer o poder, de ter direito de vida e de morte sobre as obras do pensamento, que se tornará jornalista (…)”.

“Quem tudo pode dizer, tudo consegue fazer!”. E desfechava: “Se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la”.

Vaza-Jato x Lava-Jato

Em terras brasilianas não é diferente. Os grandes veículos de comunicação sempre foram atacados – muitas vezes com razão. Nesses anos de redes antissociais, no entanto, as críticas à mídia parecem esquizofrênicas.

Os principais veículos são apedrejados por serem lulistas, por uns, e bolsonaristas, por outros.

Glenn Greenwald – Foto Gustavo Bezerra/Câmara dos Deptuados

Quando o site The Intercept Brasil estreou a Vaza-Jato, divulgando diálogos pessoais entre os procuradores da Lava-Jato e o então sufeta de Curitiba, Sergio Moro, a desconfiança era ampla. Afinal, seu principal fiador, o jornalista Glenn Greenwald, é simpático ao PT de Lula.

Eis que o The Intercept estabeleceu uma parceria com o matutino Folha de S. Paulo e passou a divulgar diálogos exclusivos cedidos por Greenwald. Ponto para a Vaza-Jato.

Nesta sexta, 5, foi a vez da revista Veja lustrar um pouco mais a Vaza-Jato. Na capa, o hebdomadário considerado pelo PT como esbirro da chamada direita, concluiu: “Sergio Moro cometeu irregularidades, desequilibrando a balança em favor da acusação nos processos da Lava-Jato”.

Vaza-Jato 2 x 0 Lava-Jato. Na noite de sábado, foi a vez da TV Globo, que já vinha dando destaque ao tema, ampliar o placar.

“A Veja diz na seção Carta ao Leitor que analisou dezenas de mensagens trocadas ao longo dos anos entre membros da revista e os procuradores e que todas as comunicações seriam verdadeiras, palavra por palavra”, respaldou o Jornal Nacional. Como os repórteres de Veja, os da Folha de S. Paulo já tinham concedido o mesmo atestado ao The Intercept.

“Os principais veículos são apedrejados
por serem lulistas, por uns,
e bolsonaristas, por outros”
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Agora, neste domingo, 7, o Datafolha empresta mais um pouco de credibilidade à Vaza-Jato. Para 58% dos entrevistados, a conduta de Sergio Moro foi “inadequada”.

Também para 58% as decisões do sufeta de Curitiba devem ser revistas. Isto não vale para Lula, já que 54% são favoráveis à prisão do ex-presidente – mesmo índice de abril deste ano.

A aprovação da Lava-Jato mantém-se majoritária, mas caiu de 61%, em abril, para 55%, hoje. Por fim, a avaliação de Moro como ministro minguou de 59% para 52%.

Intriga da oposição

Sergio Moro e seus escudeiros do Ministério Público podem continuar dizendo que não reconhecem os diálogos vazados pelo The Intercept. É a tática do momento.

Caso os números negativos das pesquisas continuarem subindo e a mídia tradicional mantiver seu aval ao The Intercept, o sufeta de Curitiba terá que encontrar outra desculpa. Ou prova que os diálogos são falsos e adulterados, ou apresenta explicações convincentes.

Até aqui, fosse uma partida de futebol, a Vaza-Jato estaria goleando a Lava-Jato. No campo da coerência política, porém, o jogo está empatado.

A chamada esquerda age como sempre. Se a notícia lhe é contrária, é armação da direita. Se é favorável, divulga-a como verdadeira.

A chamada direita, recém-saída do armário, adota comportamento semelhante. Como aquele ministro que perdeu o emprego por dizer a verdade: “O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”.

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