Pelo visto, o eleitor está satisfeito com os velhos políticos. Pesquisas de intenção de voto – tanto as majoritárias (abundantes) quanto as proporcionais (escassas) – apontam que políticos de velha cepa continuarão no comando dos executivos estaduais e das assembleias legislativas.
Ou seja, vão continuar mandando no Brasil. Trata-se de aparente contradição já que 9 em cada 10 eleitores apontam os atuais políticos como causa de todos os males brasilianos.
Ressalve-se, como tem alertado Os Divergentes sobre as eleições de 2018, que entre 59 (Ibope) e 60 milhões (Datafolha) de votantes permanecem indecisos ou indiferentes. Os números, coletados nas enquetes espontâneas, indicam que 4 em cada 10 eleitores não citam um nome preferencial para presidente da República.
Como se sabe, para os demais cargos eletivos o grau de indecisão é ainda maior. Em alguns casos, este índice pode chegar a 70% de indiferença ou indecisão.
Meliantes do erário
Desta forma, nesses 14 dias que restam até o pleito de 7 de outubro é possível que a tendência de eleger contumazes meliantes do erário seja revertida. Afinal, com a imprensa livre e as onipresentes redes sociais, não se trata de desinformação.
Muitos candidatos são conhecidos não por suas ações parlamentares, mas pelo prontuário policial. Outros tantos entraram pobres na política e hoje ostentam bens e gastanças incompatíveis com os vencimentos de um parlamentar.
Caso a tendência à mesmice se confirme em 2018, com índices médios de renovação, surgirão velhas cantilenas para explicar o fenômeno. “O eleitor não tem informação suficiente” é uma delas.
“Resta saber se [os eleitos]
são consequência da plebe ignara ou
o reflexo que não queremos encarar.”
Há variações. Por exemplo, “o eleitor no Brasil tem pouca instrução”. “As pessoas são ludibriadas pelo poder econômico”, dirão outros.
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As teses, gestadas mais das vezes pela intelectualidade, pretendem isentar os votantes, como se os eleitores nada tivessem a ver com parlamentos coalhados de larápios, conforme já quantificaram o Mensalão e a Lava-Jato. A imprensa, por sua vez – salvo alguma voz dissonante -, vai reproduzir as mesmas teses.
Haverá quem sustente que não há boas opções entre os candidatos. Novo equívoco. Primeiro, há, sim, opções novas ou menos piores. Segundo, se quem se considera “do bem” não se candidatar deixará a política para os profissionais de sempre.
“Especialistas”
Para garantirem às análises verniz de ciência, as redações atribuirão as conclusões aos “especialistas”. Ao usar o termo “especialista”, o jornalista carimba o selo de “verdade” a sua matéria.
Afinal, se foi um “especialista” quem afirmou deve ser verdade. Não interessa que o “especialista” tenha sua ideologia de estimação e seu partido de preferência.
Tampouco interessa que haja outro “especialista” que pense no sentido oposto. Na verdade, o rótulo “especialista” geralmente vai ao encontro do que pensa o periodista e seu veículo de comunicação. Funciona como um editorial avulso.
Fato que, confirmadas as teses que isentam os eleitores, os políticos reeleitos parecerão novamente distanciados da vontade cidadã. Os analistas de sempre irão repetir que o Brasil é formado por um povo honesto e trabalhador.
Mas, concluirão os mesmos, a elite política brasileira é nefasta, egoísta e mesquinha. Ficará o povo mais uma vez isento de responsabilidade.
Em seguida, ouvir-se-á outro velho bordão: “Este Congresso não me representa”. O voto é livre, secreto e universal no Brasil, mas o que sai das urnas não é legítimo se não agrada à elite instruída.
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Chegamos, assim, a uma conclusão esdrúxula. A culpa pelo Parlamento de baixo nível nunca é do eleitor, mas do eleito. Quando algum parlamentar destoa positivamente, o mérito, então, é do eleitor, não do eleito.
O desafio de Lobão
Bem, a não ser que aquele contingente de pelo menos 59 milhões de brasileiros repense a inclinação de reconduzir ao poder conhecidos larápios veremos ratificada a ironia do senador Edison Lobão (MDB).
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“Se alguém acha que a atividade política está tão ruim assim, ingresse na vida pública para tentar melhorá-la”, provocou o experiente político. Lobão, investigado por suspeita de corrupção na Lava-Jato, foi 2 vezes deputado federal, 1 vez governador e 5 vezes senador.
O Maranhão, estado onde o político fez fortuna, já deve conhecer bem a velha raposa. A propósito, Lobão está na frente na corrida para uma das 2 vagas do Senado pelo Maranhão. Se perder, dirão os acadêmicos e repetirão os jornalistas que o povo aprendeu a votar. Se vencer, a culpa será do senador que pela 9ª vez terá ludibriado os maranhenses.
Inquestionável que os legislativos e executivos não são fruto de geração espontânea. Resta saber se são consequência da plebe ignara ou o reflexo que não queremos encarar.