O jornalismo não consegue viver de furos o tempo todo – ou seja, de novidades exclusivas. Na verdade, boa parte do que se escreve nas redações poderia ser enquadrado em textos standards.
A base da matéria ficaria pronta no computador. Restaria ao repórter preencher os gaps com os dados do momento.
Finais de ano são pródigos em matérias deste naipe. Compras de última hora, estradas cheias & praias lotadas são temas recorrentes.
Caso também do número de feriados no ano que adentra. Estes textos vêm sempre acompanhados do indefectível prejuízo financeiro que as folgas acarretam ao comércio e à indústria.
2020, anunciam associações de empresários, virá com prejuízos bilionários. Afinal, serão 11 feriados em assim chamados dias úteis, além de 9 fins de semana prolongados.
Parêntesis. Que tal vinte-vinte em vez de dois mil e vinte? Sintético e de melhor fonética. Depois, somente daqui a 1.010 anos poderemos usar algo similar, com o 30-30. Mas aí, além da nossa saúde mais debilitada para curtir feriados, haverá o ‘r’, fonema com predisposição à trava-língua.
Voltando aos feriados de 20-20. Por que sempre estas reportagens de feriados têm viés negativo?
Quem disse que o importante é acumular bilhões em vez de gastá-los? Ou, de outra forma, para que acumular bilhões se não temos feriados para consumi-los? Não os bilhões, mas os trocados que juntamos. Se é bom acumular, melhor ainda é gastar.
Neste ano, a lamúria contra os feriados chega com um argumento a mais. Talvez pela primeira vez os economistas acertem e o ano que adentra será de recuperação econômica. Vamos finalmente sair da estagnação que, como nunca antes na história deste País, dissipou emprego e renda entre 2014 & 2016, herança que até hoje nos afeta.
Mais do que uma matéria de gaveta – que jornalistas de plantões mal-humorados sacam todo o começo de ano -, caixas de empresas repletos de caraminguás representam uma concepção desvirtuada de felicidade.
Sim, é muito difícil ser feliz na pobreza e, principalmente, na miséria. Mas, tirante alguns anormais que só conseguem gozar em piscinas transbordantes de moedas, como se comprazia o Tio Patinhas, à maioria interessa ter trocados se puder gastá-los.
Se for num feriado, melhor, pois vadia-se mais. Em feriados prolongados, vadia-se ainda mais. Até cansar da vadiagem.
Pense nos efeitos terapêuticos no mundo laboral. Adentramos 20-20, um ano bissexto, sabendo que teremos mais dias de folga. Ganharemos o mesmo, mas trabalharemos menos e descansaremos mais.
Não sei se há estudo, mas, mais descansados e relaxados, talvez nossa produtividade aumente. Na volta ao trabalho, depois da farra de mais um feriado em 20-20, sentiremos necessidade de produzir mais. Se não por obrigação, por remorso da folgança.