O adiamento das provas do Enem que seriam realizadas em novembro mostrou que Jair Bolsonaro amarelou diante do Congresso, mas foi, acima de tudo, uma vitória da sociedade brasileira. Entidades do setor, que vão desde a UNE e a Ubes, dos estudantes, a “think tanks” como o Todos pela Educação, conseguiram mobilizar os políticos em torno do argumento básico de que a manutenção da data das provas iria prejudicar os alunos mais pobres, que não contam com computadores ou outros recursos para estudar em casa durante a pandemia.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, usou então o encontro de reaproximação com Bolsonaro na semana passada para formular o pedido diretamente. O presidente atendeu. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, e os “ideológicos” que apoiaram sua vergonhosa afirmação de que o Enem não está aí para ser instrumento de correção de desigualdades, ficaram a ver navios.
Bolsonaro piscou – e é muito bom que tenha recuado nesse item de sua marcha para a insensatez. Não quer dizer que o fará outras vezes, ou em casos como o da cloroquina e do isolamento social, por exemplo. Mas mostra que a correlação de forças talvez esteja começando a dar sinais de mudança. No caso do Enem, a sociedade percebeu que é possível se organizar em torno de temas da vida real, os políticos perceberam que precisam se conectar com eles e Bolsonaro talvez tenha percebido – se leu as últimas pesquisas – que não está com essa bola toda.