As urnas ainda não foram ligadas, mas, como em qualquer desastre, aparecem os engenheiros de obras feitas e os palpiteiros de campanhas perdidas para apontar os erros que levaram às derrotas que estarão materializadas em poucas horas. Foi uma campanha muito estranha, a começar pelo fato de ter sido comandada, a maior parte do tempo, de um hospital e de uma cela da PF em Curitiba. Isso pode explicar alguma coisa, mas não todas as crenças e mitos que estão sendo derrubados. Por exemplo:
O PROBLEMA DE MARCA DO PSDB – Geraldo Alckmin fez tudo errado na campanha e por isso não cresceu. Será? O cristianizado Geraldo agora é alvo da crítica geral por supostamente ter aproveitado mal seu latifúndio televisivo, optando por bater em Bolsonaro e, só na reta final, batendo também no PT. Não é bem assim. É bom lembrar que o PT só deixou de ter Lula como candidato em 11 de setembro – e ninguém nessa campanha ousou atirar nele de frente.
A propaganda de Geraldo na TV não esteve ruim a maior parte do tempo. Será que não dá para supor que esta eleição não era mesmo do PSDB, por todos os motivos que estamos cansados de saber desde que o partido passou a ter protagonismo na Lava Jato e juntou-se a Temer no impeachment? O PSDB virou uma marca velha e desgastada, mas é mais fácil, ao fogo muito amigo, botar a culpa no Geraldo.
A TV QUE NÃO É MAIS TÃO IMPORTANTE MAS QUE TAMBÉM NÃO DEIXA DE SER – A eleição de 2018 derrubou as ilusões dos que, tipo Geraldo Alkmin, achavam estar com a vida ganha por ter o maior tempo da propaganda na TV. Não foi, e Jair Bolsonaro é a prova viva da força das redes e da Internet na campanha. Só que ele iniciou a dele há mais de dois anos, o que mostra que também não é remédio de efeito imediato. Por outro lado, a TV, sob a forma de cobertura espontânea do atentado que sofreu, foi extremamente importante para o candidato do PSL.
Assim como o foi também para Fernando Haddad e para o próprio Lula ao mostrar sua prisão, suas condenações, a cassação da candidatura e, por fim, sua substituição por Fernando Haddad, que acabou ficando conhecido como candidato de Lula graças, em grande parte, à propaganda na TV. O que deu errado ai foi para quem achava que esse noticiário iria desgastar Lula e destruir o PT – ao invés que provocar a comoção que o levou a liderar as pesquisas e botar seu candidato no segundo turno.
QUEM TOMOU DORIL NESSAS ELEIÇÕES? OS PARTIDOS. Nunca, em eleição alguma, se viu tão pouco as siglas partidárias na propaganda. Na TV, com raras exceções, candidatos tomaram cuidados extremos para não deixar o eleitor ver a qual partido pertenciam, sobretudo quando se tratava do PMDB e outras grandes legendas. Todos se disfarçaram atrás das coligações e números. Só que era tudo ficção. Quem ficou com a grana foram os partidos, e quem a distribuiu foram seus caciques.
O YOUTUBER DA CAMPANHA – Os videos, assim como o Whattsap, tiveram enorme importância na campanha. E um dos mais destacados youtubers da temporada foi o presidente da República, Michel Temer, um campeão de impopularidade que foi ficando cada vez mais esquecido no Planalto e, além de não ter sido convidado para pisar num palanque sequer, virou saco de pancadas geral. Sua vingança foi gravar vídeos em que revelava suas relações próximas e o apoio que recebera de políticos que agora o atacavam, como Geraldo Alckmin e João Dória…