Não se pode dizer que o Planalto não esteja fazendo tudo pela eleição do deputado Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara. É um esforço raras vezes visto por parte do Executivo, que na maioria das vezes costuma não botar a mão nesse tipo de cumbuca, temendo as consequência de uma derrota. De fato, se Lira não se eleger, vai ser muito mais do que um vexame. Poderá ser, politicamente, o início do fim do governo Bolsonaro com a desagregação de qualquer esperança de base política.
É que, além das proverbiais emendas e verbas orçamentárias, e dos vistosos ministérios que estão sendo negociados, Jair Bolsonaro está subordinando a essa campanha eleitoral legislativa medidas de impacto econômico e fiscal para o país. Isso fica claro, mais uma vez, no anúncio desta manhã do relator da PEC Emergencial no Senado, Marcio Bittar, de que vai deixar seu relatório para o ano que vem.
Ou seja, não há chance de votação este ano para a emenda que era considerada a mais importante para as contas do governo, por regulamentar os gatilhos para conter despesas e manter o teto de gastos, entre outras propostas. A PEC está entre as medidas fiscais que eram consideradas prioridade pela equipe econômica e pelo mercado, mas parece ter havido uma inversão na escala das urgências.
Eleger Arthur Lira passou a ser, para o governo, mais importante do que tudo – inclusive do que a política fiscal e a economia. Talvez porque, na mente tortuosa de Jair Bolsonaro, a única coisa que importe seja sua tentativa de reeleição em 2022, com o apoio das forças do PP e do Centrão. Já tem idade e experiência suficiente para saber que tudo isso é ilusório. Essa estratégia depende muito mais da economia, da pandemia e da situação do governo no difícil ano de 2021 do que da aliança com Lira e sua turma – que, todo mundo sabe, não hesitarão em dar meia volta e debandar se o projeto começar a fazer água.