Nesse início do julgamento decisivo pelo Senado, o governo Dilma Rousseff está como aquele paciente na UTI, respirando por aparelhos, com morte cerebral decretada pelos médicos. Mas a família não se conforma com a perda e insiste em manter as máquinas ligadas, na reanimação do paciente com massagens cardíacas, injeções de epinefrina e outros recursos.
Assim foi durante toda a manhã, quando a aguerrida tropa de choque da presidente afastada apresentou dez questões de ordem, todas rejeitadas pelo cirurgião-chefe Ricardo Lewandowski.
Dilma tem uma dívida de gratidão eterna com Gleisi Hoffmann, Katia Abreu, Vanessa Grazziotin, Fatima Bezerra, Humberto Costa e Lindbergh Farias por sua lealdade até o último minuto. Este último, inclusive, nem era tão próximo assim e chegou a ter diversas trombadas com a presidente nos bons tempos. Mas não a abandonou na desgraca, como tantos outros que estão ali hoje no plenário do Senado.
Os defensores de Dilma sabem que o paciente está com os dias contados, mas não jogam a toalha e não vão permitir que os aparelhos sejam desligados pelo menos até segunda-feira. Não vão deixar que Dilma Rousseff faça sua defesa num clima de velório antecipado.
Tudo indica que, na terça, acabem os esforços de reanimação e os aliados de Dilma deixem a natureza seguir seu curso. Mas a presidente afastada é daquelas que não morrem de véspera e, assim como muitas famílias desesperadas, aposta até o fim em milagres, que são muito raros mas às vezes acontecem.