Quando pede publicamente ao Ministério Público que contenha os vazamentos e acelere a divulgação oficial das delações da Lava Jato e, ao mesmo tempo, joga para um futuro remoto uma hipótetica cassação da chapa presidencial pelo TSE e seus muitos recursos, o presidente Michel Temer parece estar trabalhando com sinais trocados. Só que não. Aos poucos, vai ficando clara a estratégia do Planalto para tentar sobreviver ao tsunami das delações da Odebrecht, que pode ser resumida na administração de um único fator: o tempo.
Temer e seus principais apoiadores sabem que seu risco hoje reside muito mais na desmoralização que pode ser provocada por seguidos vazamentos citando o presidente da República e seu entorno do que por decisões concretas da Justiça para processá-los e punir os delitos apontados. Afinal, o próprio Temer não pode ser processado por crimes estranhos ao exercício do mandato.
E seus principais auxiliares, se mantidos nos cargos e conservando o foro privilegiado, seriam alvo de processos no ritmo que o STF tem imprimido aos de Renan Calheiros, por exemplo – que chegou ao final de seu mandato como presidente do Senado sem o constrangimento de uma condenação ou prisão. Bateu na trave, mas se salvou. Agora, será outra história, mas que terá como foro a segunda turma do STF, de composição mais amigável, em decisões que não serão televisionadas ao vivo e, sobretudo, tendo como alvo um senador comum, e não mais o presidente do Congresso. Em termos midiáticos, faz uma boa diferença.
Assim como fez Renan, Temer e aliados pretendem administrar o fator tempo. No caso da cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE, por exemplo, a estratégia é empurrar qualquer decisão para depois de maio, após a substituição de dois ministros-advogados que terão os substitutos indicados pelo próprio presidente. Com essa mudança de composição, o tribunal pode ficar mais favorável. Para postergar o julgamento, o Planalto pode contar com a boa vontade do presidente da Corte, Gilmar Mendes.
Ainda que a chapa seja cassada, Michael Temer já anunciou que vai recorrer ao STF, que levaria também o seu tempo para julgar o assunto – e pode também administrá-lo como quiser. Ninguém se espantaria se a decisão final ficasse para o final de 2017 ou início de 2018, que é, por sinal, quando acaba o mandato herdado de Dilma por Temer e haverá novas eleições.
Com o tempo correndo, não é difícil, para o atual presidente, chegar até lá – ainda que em estado de desgaste político e lastimável popularidade.
O fator que pode atrapalhar essa estratégia, porém, está diretamente ligado aos vazamentos. Se o noticiário continuar a trazer todos os dias uma nova acusação contra Temer ou seus aliados mais próximos, a fragilização do governo poderá chegar a um ponto de não-retorno, com perda do apoio congressual – o Legislativo pode virar um mingau de acusados – é uma possível mobilização das ruas em torno das diretas já.
É por isso que o Planalto torce tanto para que o espírito natalino tenha baixado sobre o procurador Rodrigo Janot, que foi convidado outro dia para um cordial bate-papo com Temer no Planalto. Janot não é Papai Noel, mas seu segundo mandato vence em setembro de 2017 e uma nova recondução não é vedada por lei.