Parecia uma lição bem aprendida e assimilada: o Palácio do Planalto se dá mal quase todas as vezes em que coloca sua colher de pau da eleição para a presidência da Câmara. Dilma Rousseff, por exemplo, chegou a perder o mandato depois da guerra declarada a Eduardo Cunha. Mas a crise parece estar anuviando os sentidos do outrora hábil negociador Michel Temer, que se meteu numa confusão dos diabos ao nomear e desnomear em poucas horas o tucano Antônio Imbassahy para a secretaria de Governo.
Não é nada pessoal contra Imbassahy, um parlamentar competente e respeitado por seus pares. Mas Temer, ao aceitar sua indicação, quis ser esperto demais e traiu seu apoio mais do que firme à reeleição do deputado Rodrigo Maia para o comando da Câmara.
Achou que estaria matando dois coelhos com uma só cajadada, segurando o sempre claudicante apoio do PSDB ao governo com um espaço nobre no coração do Planalto. Ao mesmo tempo, tirava de campo os tucanos da competição na Câmara, pois Imbassahy era seu principal nome para substituir Maia.
Não é nenhuma surpresa a reação do Centrão, que tem pelo menos dois candidatos – Rogério Rosso e Jovair Arantes – e agora ameaça se vingar na reforma da Previdência. Nem tampouco a insatisfação do PMDB, que perdeu a secretaria antes ocupada por Geddel Vieira Lima e pode perder funções hoje com Eliseu Padilha que seriam transferidas ao tucano. É por aí que muita gente enxerga uma boa dose de fogo amigo na reação de Temer de adiar a nomeação.
Sob o risco de se desmoralizar e perder o apoio do principal fiador de seu governo, o PSDB, Temer terá que recuar do recuo mais uma vez e nomear o tucano. Vai sair muito, muito caro para pagar a fatura do Centrão e do PMDB.
Mas não tem outro jeito para um presidente a cada dia mais acuado pela soma explosiva da crise da economia com a operação Lava Jato. Aliás, já vimos esse filme com outra protagonista.