As imagens e vídeos da ida do perigosíssimo avô de 73 anos ao velório do neto, cercado por fuzis e proibido de falar e acenar aos militantes parecem ter atenuado a primeira onda baixaria na Internet contra a liberação de Lula para se despedir de Arthur.
Pelos primeiros levantamentos, a brutalidade dos momentos iniciais, puxada inclusive pelo filho 03, Eduardo Bolsonaro – que defendeu que o ex-presidente não fosse liberado para os funerais do neto – acabou suplantada pela solidariedade. O próprio Eduardo, antenado com as redes, tratou de recuar no sábado, meio que se explicando pelos comentários de mau gosto na véspera.
Avaliações de especialistas apontam que a maioria dos posts no twitter e no Facebook apoiou a permissão para Lula sair da cadeia. Os comentários de solidariedade superaram em muito as manifestações desumanas. O alcance do assunto foi enorme, e os exageros da segurança, como se houve risco de fuga do prisioneiro, foram mostrados inclusive pela mídia “mainstream”.
A imagem de abatimento e tristeza do ex-presidente, sua família e amigos deve ter causado vergonha aos que os acusaram de querer usar politicamente a morte de uma criança. Os gestos de solidariedade a Lula, inclusive de adversários políticos, e notadamente o do ministro do STF Gilmar Mendes, com quem ele chorou ao telefone, foram simbólicos.
Simbólicos de quê? De que, apesar do rompimento da barragem da tolerância e da razoabilidade política nesses primeiros tempos do governo Bolsonaro, a lama da brutalidade não afogou todo mundo. Aos poucos, essa lama irá secar e, com o tempo, podem emergir dali não apenas cadáveres, como em Brumadinho, mas valores vivos. Solidariedade, compreensão, civilização política. Por que não?