Políticos costumam ser sujeitos frios e calculistas, mestres na arte da indignação fabricada, das raivas oportunas, da emoção regada a lágrimas de crocodilo. Assim como ninguém acreditou muito no sentimento de abandono e na mágoa demonstrada por Michel Temer em carta dirigida a Dilma Rousseff poucos meses antes do impeachment que a fulminou, é bom não comprar pelo valor de face o aborrecimento que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, faz questão de expressar com o Planalto de Temer.
Quem com mágoas fere, com mágoas será ferido, pode ser o ditado da vez. Aparentemente, Maia – não por acaso sucessor legal de Temer – está fazendo o mesmo jogo que o presidente fez com sua antecessora quando resolveu desertar e trabalhar para derrubá-la. Nessas horas, para não ser acusado de traição, um político precisa mostrar que tem motivos para se afastar e justificar a ruptura.
Quem não se lembra o sensível e choroso Michel reclamando ser tratado como um “vice decorativo” e enumerando os eventos para os quais não fora convidado no governo? Um tremendo mimimi, muito parecido ao que Maia protagoniza.
O deputado começou reclamando do assédio do PMDB a deputados cobiçados por seu partido, o DEM; reagiu ao Planalto porque este não votou no dia em que ele queria a MP da Leniência dos bancos; criticou proposta de aumento do PIS/Cofins, que ameaçou não votar; e desmentiu a versão do Planalto sobre sua conversa com o presidente esta semana. Isso sem contar as vezes em que foi à TV se dizer alvo das fofocas dos ministros do Planalto – o que, de fato, ele é.
Mas Rodrigo Maia cumpriu seu objetivo – que, a esta altura, não é derrubar Michel Temer, apenas mantê-lo bem fraco depois de derrotar a segunda denúncia. Deixou claro ao distinto público que está distante desse impopularíssimo governo de 3%, o que é bom no ano eleitoral. E, sobretudo, aqueceu as turbinas para, no “day after”, fazer decolar seu projeto de assumir uma espécie de comando informal do último ano de governo, a partir da pauta legislativa.
Pode até ser que consiga. Mas é bom lembrar que tem mais gente de olho nessa posição. E que Michel, justiça seja feita, é um mestre na arte de dividir para reinar, mesmo que seja com mimimi.