Renan: nem tão depressa que pareça fuga nem tão devagar que pareça provocação

Todas as atenções da República estão hoje voltadas para um sujeito – e ele não é o vice Michel Temer. Mesmo quem já trabalha com a realidade do futuro governo Temer está hoje preocupado com o que o presidente do Senado, Renan Calheiros vai fazer. Ainda que ele não controle os votos da Casa, tem bastante poder de fogo junto a seus colegas. Tem, acima de tudo, a agenda da tramitação do impeachment em suas mãos.

Renan é visto como a última trincheira de defesa do Planalto no Congresso. De fato, o senador alagoano tem sido um aliado importante de Dilma Rousseff, até porque vive uma disputa peemedebista com Temer. Em troca do apoio ao PT, dizem as más línguas, viria tendo um tratamento um pouco mais condescendente da PGR na Lava Jato, na qual é alvo de mais de meia dúzia de inquéritos. Pode não ser bem assim, ou pelo menos não ser mais assim. Nas últimas semanas, o procurador Rodrigo Janot mostrou que anda cada vez mais distante dos interesses do governo.

De certo, há o fato concreto de que o governador de Alagoas, Rensn Filho, o Renanzinho, vem recebendo excelente tratamento do governo federal. E só isso já é uma grande coisa para quem comanda a política no estado.

Só que agora os ventos viraram. E Renan Calheiros, que foi até ex-líder do governo Collor, é um sobrevivente, um político extremamente pragmático que já afundou e emergiu muitas vezes. Tem experiência na arte de se reinventar politicamente, sempre na melodia do poder.

Por isso, a melhor aposta hoje é de que Renan não provocará embaraços ao processo de impeachment no Senado. Ele chegou inclusive a avisar o Planalto, há dias, que não teria condições de barrar sua admissibilidade se a Câmara autorizasse seu prosseguimento.

Renan vai manter as aparências, atuará no figurino de magistrado e deverá conduzir essa primeira parte do processo (a segunda é comandada pelo presidente do STF) seguindo rigorosamente os prazos regimentais – nem tão rapidamente que pareça fuga, nem tão devagar que pareça provocação. Difícilmente vestirá a camisa de Salvador de Dilma.


 

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