Dificilmente o recuo do ex-executivo da Andrade Gutierrez Otavio Azevedo em seu novo depoimento ontem à noite no TSE terá o poder de extinguir o processo impetrado pelo PSDB para cassar a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer por irregularidades no financiamento da campanha de 2014. Afinal, há outros elementos no processo. A nova versão de Azevedo, porém, dificultará em muito a estratégia do Planalto de separar as contas de Temer das de Dilma, mantendo ex e atual presidentes num abraço eleitoral de afogados.
Ao dizer ontem à noite ao ministro relator Herman Benjamim que se enganara a respeito da doação de R$ 1 milhão que dissera ser fruto de propina e entregue à campanha de Dilma, Azevedo disse que se confundiu porque o dinheiro foi dado à campanha de Temer mas o recibo foi emitido pelo tesoureiro da campanha do PT, Edinho Silva, seguindo a lei. Isso, evidentemente, é uma prova clara de que as campanhas de presidente e vice estão umbilicalmente ligadas: à contribuição pode ir para uma é o recibo sair pela outra, o que as torna legalmente inseparáveis.
Talvez por isso – para não comprometer Temer – Azevedo tenha voltado atrás na afirmação de que o dinheiro era fruto de propina de contratos da Andrade em obras do governo. Fica o dito pelo não dito e o que era propina não é mais. Ponto final.
Devem ser fortíssimos os motivos do recuo de Azevedo, além do propósito de não envolver a campanha do atual presidente no recebimento de recursos de propina. Mas o fato é que o executivo, sob delação premiada na Lava Jato, complicou sua própria situação. Pode-se duvidar agora de outras declarações suas à Justiça. Com a palavra, Curitiba.
O principal, porém, é saber o que vai acontecer no TSE, onde a situação de Dilma melhora. Nada indica, porém, que Benjamim dará o caso por encerrado. O assunto continuará a pender sobre o Planalto como mais uma espada de Dâmocles.