É preciso ter peito para soltar Eduardo Cunha. O STF saiu de fininho e adiou nesta quarta-feira o julgamento da reclamação em que o ex-deputado pede para sair da cadeia – aquela que Teori Zavascki havia jogado para o plenário em função dos rumores de que seria acolhida na Segunda Turma. A decisão de não votar hoje teve a clara intenção de botar água fria na fervura, que havia ficado mais alta ainda depois do depoimento de Cunha ao juiz Sérgio Moro na terça-feira. O STF não quer se expor nem votar sob pressão.
Se tivesse votado o recurso hoje, a tendência da maioria do plenário seria, segundo advogados que lá militam, a de negar a liberdade a Cunha. Afinal, seria a primeira decisão do plenário da Corte sobre a Lava Jato após a morte de Teori, e uma pesada missão para o novo relator Edson Fachin.
Soltar o ex-deputado, a esta altura, renderia muita pancada da opinião pública sobre o Supremo. Ficaria difícil convencer que o processo continua sem recuos.
Ao mesmo tempo, uma decisão definitiva contra o recurso de Cunha pode resultar num acordo de delação do ex-deputado, hipótese que deixa o Planalto de cabelo em pé. Políticos do PMDB acham que Eduardo Cunha está a um passo da delação, e faz questão de mostrar isso, recorrendo ao que sabe fazer melhor: ameaçar e pressionar.
O alvo é Michel Temer, e o aviso ao navegante veio na menção à suposta presença do hoje presidente em reunião no governo Lula para tratar de indicações para a Petrobras. Cunha fez questão de mostrar o estrago que pode fazer se continuar preso em Curitiba.
Entre a cruz e a caldeirinha, o STF vai ter que enfrentar esse assunto.