Assentada a poeira da eleição mais traumática que o Senado já teve nas últimas décadas, vai ficando claro quem ganhou de verdade. E não foi só o senador Davi Alcolumbre, novo rei do tapete azul, ou o DEM, ou o-ministro-que-quase-virou-suco-mas-não-virou Onyx Lorenzoni. Um dos grandes vitoriosos do último sábado foi o procurador Deltan Dallagnol, que não saiu de Curitiba mas trabalhou muito por esse resultado.
”O Brasil está mudando”, escreveu Deltan no Twitter, logo após o senador Renan Calheiros subir à tribuna para renunciar à sua candidatura e deixar o plenário. De fato, nunca se viu antes tanta influência do Ministério Público e adjacências numa eleição interna do Legislativo. Na véspera, a Lava Jato fizera sua 59ª Operação, investigando personagens citados na delação do ex-senador e amigo de Renan, Sergio Machado, que apontou para o MDB e seus senadores. No mesmo dia, vazaram áudios de conversas de Renan com Joesley Batista, da JBS.
Aparentemente, esses dois tiros finais não tinham sido mortais, mas o que se viu no plenário do Senado foi o fortalecimento de uma frente anti-Renan, formada por senadores recém-eleitos, aqueles que se intitulam representantes da “nova política”, que se aliou ao Planalto de Onyx Lorenzoni — relator das enterradas dez medidas contra a corrupção, lembram? – e à parte da oposição. Numa estratégia turbinada pelas cobranças das redes sociais, constrangeram renanzistas enrustidos a mostrar seus votos e, ao fim e ao cabo, reuniram os 42 votos para eleger Alcolumbre.
Nada indica que a turma do Dallagnol, os vencedores no Senado, voltará a se unir para aprovar, por exemplo, reformas como a da Previdência. É bem possível que não, já que a reforma mexe com interesses de corporações diversas que trabalham no combate à corrupção.
Mas ela estará ali a postos para tentar constranger qualquer apoio a iniciativas anti-Lava Jato ou destinadas a punir abusos de procuradores e juízes, como o projeto que trata do abuso de autoridade. Deverá, por outro lado, cerrar fileiras a favor das alterações na legislação penal que serão mandadas esta semana ao Congresso pelo ministro da Justiça, Sergio Moro.
Em tempo: a turma de Dallagnol é, obviamente, a turma de Moro.
O que vai resultar disso, ninguém sabe. A turma perdedora da eleição queria colocar no comando Renan Calheiros justamente para impedir abusos e evitar o endurecimento da legislação, até para salvar a própria pele. A turma de Renan é a outra metade do Senado, que, nos próximos capítulos, poderá acabar paralisado num grande e indesatável nó…