Apesar do pronunciamento em tom de guerra política, uma coisa é dada como certa por quem conhece bem Michel Temer: ele não ficará esperando parado pelo 342º voto da Câmara pela abertura do processo contra ele. Se perceber que está perdendo o controle das coisas, Michel, que é um político pragmático, negociará sua saída, mediante renúncia, em troca de algum dispositivo legal que o livre de ir para a cadeia e lhe assegure o foro privilegiado.
No momento, reagindo com acusações ao PGR e usando palavras fortes como infâmia e denúncia-ficção, ele usa todos os recursos de narrativa para manter a fidelidade de sua base. Nas contas de aliados e adversários, o presidente da República ainda teria hoje, neste 27 de junho de 2017, os 172 votos ou ausências necessários para escapar à primeira denúncia.
O que não se sabe é se ele terá esse 1/3 da Câmara daqui a duas semanas, ou na data da votação da denúncia em plenário, prevista apenas para agosto. Nem Deus sabe. E é um cima dessa incerteza que alguns já apontam a perspectiva de uma negociação entre Temer e seus aliados.
O primeiro ponto dessa conversa será garantir, provavelmente na reforma política que será aprovada nos próximos meses, a aprovação de uma emenda restaurando o foro privilegiado para ex-presidentes da República. Não que isso seja garantia de que Temer nunca será preso; mas é, no mínimo, melhor ficar nas mãos do Supremo Tribunal Federal do que na de sabe-se quem. De quebra, beneficiaria Lula, Sarney, Collor, Dilma e outros, o que poderia garantir apoio suprapartidário a esse acordo – que pode acabar saindo mesmo que Temer fique até 2018, que está logo ali.
Apesar de insistir valentemente que não recuará e lutará pelo mandato até o fim, Michel Temer, como um dos políticos mais espertos de sua geração, sabe distinguir os sinais de deterioração de sua base, sobretudo se ela tiver que votar a denúncia na Câmara, fatiada pelo PGR, sucessivas vezes.
Quando chegar ao ponto de não-retorno, se chegar, não hesitará em conversar, inclusive para evitar o que mais se teme hoje no establishment político: a realização de eleições diretas que levem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de volta ao Planalto. Evidentemente, a eleição de um nome palatável à sua base – Rodrigo Maia? – fará parte do pacote.
É por isso que os petistas, sob o discurso anti-Temer, alimentam, no fundo do coração, um desejo de que as coisas continuem como estão lá no Planalto, com um presidente sangrando mais a cada dia, sem tempo para fazer mais nada a não ser cuidar da própria defesa.