De repente, todo muito ficou preocupadíssimo com a Dilma. Na geladeira da grande mídia há mais de cinco anos, desde o impeachment, a ex-presidente da República voltou a aparecer em altos de página, que dão ênfase a sua hipotética exclusão da campanha e de um eventual futuro governo Lula. Até Michel Temer, o vice infeliz que virou algoz, disse outro dia, em tom de advertência, achar um “equívoco” a suposta exclusão de Dilma da campanha do PT.
Quem te conhece que te compre. Já ficou claro que a mídia, predominantemente antipetista, e os adversários de Lula querem usar a ex-presidente como um ponto de fragilidade na campanha petista. A essa altura, em que o ex-presidente continua com quilômetros de vantagem sobre Jair Bolsonaro e os demais nas pesquisas, vale tudo para tentar arranhar essa popularidade.
Até mesmo usar Dilma, tentando cercar Lula com duas narrativas. Uma, para o caso de a ex-presidente ser incorporada à campanha, é a tentativa de associar o candidato do PT à impopularidade e ao pior período do segundo governo de sua sucessora, quando a economia naufragou. Outra, na hipótese de o partido manter a ex-presidente afastada da campanha, é apontar a todo momento que Lula estaria “escondendo” a companheira, considerando-a um símbolo dos maus tempos do partido.
A realidade, como sempre, não está nem em uma versão nem noutra. O grau de participação (ou não) de Dilma na campanha de Lula vem sendo discutido, sim, com certa preocupação pelos petistas. Em alguns grupos, ainda que minoritários, a ex-presidente virou uma espécie de bode-expiatório, culpada por todas as desgraças da legenda nos últimos anos. Outros, com visão mais serena, sabem que não é bem assim, mas querem evitar desgastes na campanha. Lula está entre esses.
Todo mundo sabe que se a intenção dos adversários é provocar uma rusga pública entre os dois ex-presidentes, ela não acontecerá. Não fosse Dilma uma disciplinada ex-militante que sabe aceitar situações desagradáveis em nome de uma causa maior, o próprio Lula, jeitoso, vai delimitando as coisas. Nesta quarta, em entrevista, deixou claro que Dilma pode não fazer parte de seu futuro governo, porque quer nele muita “gente nova”.
Lula aproveitou para fazer elogios à sucessora, “tecnicamente uma pessoa inatacável, com uma competência extraordinária”, e sinalizou o território no qual sua campanha abrirá divergências com a ex-presidente: “Onde ela erra, na minha opinião, é na política”. É nesse campo que vão estar as diferenças que Lula terá que mostrar em relação a Dilma.
Uma crítica leve e palatável, até porque falta de habilidade política pode ser, em algumas ocasiões, menos um defeito do que uma qualidade. O governo Dilma foi para o espaço porque ela não quis – ou não soube – negociar com Eduardo Cunha, que se dedicou então a aprovar no Congresso uma pauta=bomba que a impediu de governar, desandou a economia e, ao fim e ao cabo, colocou o processo de impeachment para andar. Não havia crime, nem comum e nem de responsabilidade, mas foi assim que Dilma caiu.
Eleitoralmente, a ex-presidente não representa mesmo um ativo para Lula – o que não quer dizer que toda a violência política do processo contra ela não deva fazer parte do discurso de campanha de Lula. Até porque a comparação entre a presidente que sofreu impeachment sem crimes e o presidente que, apesar dos crimes, não sofreu impeachment sempre será francamente favorável a ela.
Por mais que tenham esquadrinhado cada centímetro de sua vida, nunca encontraram nada desabonador em relação à honestidade de Dilma Rousseff. Saiu de Brasília para o mesmo apartamento de três quartos em que morava antes em Porto Alegre. Seus parentes não melhoraram de vida nem compraram mansões suntuosas em seu governo. Foi um tempo em que a chefe do Executivo dividia a conta do restaurante com seus ministros. E, acima de tudo, mostrava empatia com o sofrimento da população, ampliando todos os programas sociais, mirando a erradicação da pobreza. Em vez de andar de jet-ski, ela também marcava presença nos locais de tragédias.