E o Datafolha, hein? Chegou mais para confundir do que para aclarar o quadro eleitoral. A única coisa certa que se pode dizer hoje é que nada é certo. Mas é possível examinar por camadas e tirar alguma coisa do amontoado de números e dados – o primeiro depois da condenação de Lula pelo TRF4. O principal é o de sempre: a extraordinária resiliência do ex-presidente, sobrevivendo na liderança da disputa por larga margem. O que não quer dizer que chegará de novo ao Planalto, hipótese cada vez mais remota.
Nas camadas mais profundas dessa nova pesquisa está o repúdio e a desilusão geral da população com a política, clara no registro recorde de 36% de votos nulos ou em branco – hoje os principais beneficiários dos votos de Lula quando ele sai da cédula. E o que mais? Por partes:
- O Datafolha aponta queda de 5p.p. na capacidade de transferência de votos de Lula, com o crescimento de 48% para 53% do percentual dos que não votariam num candidato apoiado por ele. Do outro lado, porém, a soma dos que votariam com certeza (27%) com os que talvez votassem (17%) chega a 44%. Ou seja, esse sujeito, que hoje não sabemos quem é, pode ter mais votos do que Jair Bolsonaro (em torno de 20%) e estar no segundo turno. Sozinho, um dos nomes possíveis, Jaques Wagner, chega a apenas 2%.
- O buraco cavado com a condenação de Lula não resolveu o problema do centro, que continua pulverizado entre candidaturas que patinam em índices de um dígito. Geraldo Alckmin parece estar empedrado, parado nos seus 8%. Mas não apareceu ninguém melhor que ele no campo governista da centro-direita. Henrique Meirelles e Rodrigo Maia partilham a lanterna com 1% cada. João Dória está empacado nos 5%.
- E Luciano Huck? Nas camadas mais superficiais, vale um Alckmin, com 8%. Pode até ter um viés de alta mais forte do que o governador, segundo seus esperançosos amigos. Mas esse patamar, embolado com um monte de gente mais, justificaria o recuo do apresentador na decisão de não concorrer? É um risco. Decisão difícil para quem tem muito a perder.
- Marina Silva é quem mais cresce com a saída de Lula do quadro (entre 13% e 16%), mas seu herdeiro mais legítimo poderá ser Ciro Gomes, que também cresce (entre 10% e 13%), tem mais identidade, um partido mais estruturado (PDT) e, nos últimos tempos, vem se aproximando do ex-presidente…