Planalto furioso com as flechadas de Raquel Dodge

Procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Tem gente no Planalto fazendo vodu com bonequinho de Raquel Dodge – e é bom que a procuradora geral da República tome cuidado com os despachos (de macumba) nas encruzilhadas de fim de ano. O texto da Adin impetrada ontem pela PGR no STF contra o generoso indulto decretado por Michel Temer para condenados por corrupção é a mais dura peça assinada por Dodge contra um ato do governo desde que assumiu o cargo.

Além de dizer que Temer violou a Constituição porque o chefe do Executivo não tem poderes ilimitados para ‘aniquilar” as condenações criminais, a PGR chama o ato de arbitrário. Raquel cita diretamente a Lava Jato e as investigações sobre corrupção ao dizer  que o decreto de Temer se destina ‘claramente’ a favorecer a impunidade.

Não se pode dizer que tenha sido a primeira flechada de Raquel contra o Planalto. Até agora, a nova procuradora tem mantido ações do antecessor Rodrigo Janot contra políticos e  levado adiante praticamente todos os procedimentos criminai s da PGR. Mas caiu mal no entorno do presidente pelo tom forte e, sobretudo, porque pode prenunciar coisas piores para Temer e seus aliados no ano eleitoral de 2018. Temer e cia estão furiosos e assustados.

Afinal, o governo e os políticos acusados na Lava Jato haviam transformado o ex-PGR Rodrigo Janot numa espécie de inimigo número 1 e vinham se dedicando a denegri-lo e desgastá-lo como estratégia de defesa, sobretudo depois do episódio JBS. A troca de procurador, e as brutais diferenças entre um e outro – Janot, o demônio, e Raquel, o anjo – seriam importante elemento nessa narrativa.

Raquel Dodge, porém, não entrou no jogo – aliás, como previam os que a conheciam de perto. Pode até ter alimentado esperanças do Planalto e adjacências ao disputar a nomeação, sobretudo por viver em constante disputa com Janot e seu grupo. Mas iludiram-se os governistas que esperavam uma nova engavetadora geral da República.

Hoje em dia, para ser PGR, um sujeito precisa, antes da nomeação do presidente da República, do apoio de sua própria categoria. Aliás, como todos os procuradores que lá ingressaram por rigoroso concurso e lá passaram a maior parte de suas vidas profissionais. A fidelidade desse pessoal é, sobretudo, às bases internas e aos principios fundamentais da ação do Ministério Público, fortalecido e cada vez mais poderoso no pós-Constituição de 1988. A isso se chama também instituição.


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