A reação surpreendentemente rápida e eficiente do Planalto para tentar salvar as exportações brasileiras de carne jogou o foco nos exageros da pirotécnica operação Carne Fraca da última sexta-feira, promovida pela Polícia Federal. Houve, sim, uma divulgação alarmista dos fatos, ainda que eles sejam muito graves.
A informação básica de que apenas 21 fábricas ou frigoríficos, de um total de mais de 4.800 estão sob suspeita – e por isso serão submetidas agora a fiscalização especial – chega tarde, depois de dois dias de horror e ansiedade por parte da população. Nesse meio tempo, os países importadores, sempre buscando uma boa desculpa para barrar a carne brasileira, se assanharam.
A informação de que a utilização de ácido ascórbico, vitamina C, na carne não é prejudicial e nem perigosa, dada pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, mostrou também a falta de informação e os exageros na divulgação da Carne Fraca. Por mais repugnante que pareça, ele explicou também que é comum misturar cabeça de porco na linguiça.
Muita gente não vai comer mais linguiça, inclusive eu. Mas a reunião e as entrevistas deste domingo no Planalto mostraram que, diferentemente do que o estardalhaço da PF – na maior operação de sua história – passou ao público, o sistema de processamento de carnes no país não está todo em xeque.
Apenas uma parte parece ter sido atingida, e isso não interessa só aos exportadores, mas principalmente aos consumidores brasileiros.
O tempo vai mostrar se é mesmo assim como disseram Temer e Maggi. Mas a pirotecnia da Carne Fraca vai entrar na conta da PF, arranhando a credibilidade de futuras operações.
Em tempo: embora oriunda de Curitiba, a Carne Fraca nada tem a ver com a Lava Jato. O Ministério Público do Paraná não é responsável pela operação, que tem a digital da PF. Sua eclosão na sexta-feira, aniversário da LJ, foi inclusive interpretada pelos procuradores como uma forma de disputar a festa com eles, dentro da conhecida rivalidade PF X MPF.