Não chega a ser uma novidade a falta de noção de Jair Bolsonaro em relação à separação entre o público e o privado. Interferências na Polícia Federal e em outros órgãos, cobranças a ministros para defendê-lo e críticas a outros poderes quando tem seus interesses pessoais contrariados mostram o republicanismo auto-centrado do presidente da República. A decisão de botar sua própria assinatura na ação impetrada pela AGU no STF questionando a determinação do ministro Alexandre de Moraes para tirar do ar as contas de 16 bolsonaristas talvez seja, porém, a mais forte demonstração de sua inclinação absolutista, na linha de “o Estado sou eu” de Luiz XIV.
A ação de inconstitucionalidade apresentada com base no princípio da liberdade de expressão pode ter até sua razão de ser – nos bastidores do próprio Supremo, há quem considere que Moraes exagerou ao bloquear as redes dessas pessoas. Mas é o caso de se indagar o que a AGU faz no processo, já que nenhum dos 16 alvos é ministro ou autoridade do governo, cabendo a seus advogados particulares ingressar com o recurso.
Mais absurdo ainda é o presidente da República figurar nela, saindo em defesa de políticos, empresários e militantes investigados por propagar fakenews e financiar atos antidemocráticos que pregavam o fechamento do STF do Congresso. A fim de agradar a ala ideológica de seu governo, que anda se sentindo carente, Jair Bolsonaro está se colando aos acusados por esses crimes.
Vejam bem: ninguém está acusando Bolsonaro desses delitos. É ele mesmo que está se associando a acusados ao entrar como parte na ação contra blogueiros como Allan dos Santos e Sara Winter, que já estiveram inclusive presos. É ele mesmo quem está se solidarizando com figuras como o ex-deputado Roberto Jefferson, que semana passada publicou post com baixaria pura, em linguagem do mais baixo calão, contra ministros do Supremo.
É muito provável que a ação da AGU não dê em nada, pois o STF, nessas horas, vêm se unindo para reafirmar sua independência como poder – ainda que haja divergências internas quanto à decisão de Moraes. A tendência é que boa parte desses 16 bolsominions, inclusive empresários como Luciano Havan, recebam alguma condenação, ainda que leve. A marca da assinatura de Bolsonaro estará lá, indelével, para comprovar a todos, inclusive o Supremo, de que lado ele está.