Na tranquilidade do feriado, os quatro vídeos – de meia hora cada – do depoimento de Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro foram acessados por milhares de pessoas no YouTube. No primeiro escalão do PT, que andou assustado, a impressão é de que o ex-ministro tem como alvo principal grandes empresários, inclusive do setor bancário. Sua intenção não seria chegar a uma delação premiada, mas acenar com essa ameaça esses possíveis e poderosos alvos, esperando que de alguma forma eles se mobilizem para ajudá-lo a obter um habeas corpus no STF – a última esperança de Palocci.
Quem conhece o ex-ministro, e vem acompanhando as delações da Lava Jato, saiu com a impressão de que o Palocci que ali estava não se encontra a um passo de delatar Lula e outros petistas, embora em alguns trechos não tenha poupado Joao Vaccari e tenha admitido que o partido, “como todos”, fez caixa 2. Em vez de ficar calado, atitude normal para quem está negociando delação, preferiu falar, e muito. Defendeu-se de todas as acusações e, sobretudo, deu um aperitivo do que poderá oferecer se resolver abrir a boca de verdade.
O cardápio de Palocci pode não ser do agrado de Moro e da força-tarefa, que querem elementos contra Lula, que o ex-ministro não ofereceu. O juiz chegou a interrompê-lo algumas vezes com a interpelação de que ele só deveria falar sobre a relação com a Odebrecht. Mas Palocci, que parecia ter planejado tudo, insistiu em contar histórias como a de que foi procurado por um “banqueiro’, a pedido de “um integrante de primeiro escalão do governo” , para tratar da provisão de recursos para a campanha de Dilma de 2010.
Como quem não quer nada, mencionou também ajuda a empresas: “o governo muitas vezes salva empresas”. Citou a Sadia, a Votorantim, e, de form geral, empresas do setor de comunicação. E prometeu dar os nomes, as datas e os detalhes das ‘operações” em outra oportunidade.
Ao mesmo tempo, percebendo esse jogo, os petistas se tranquilizaram com o depoimento de Brani Kontic, ex-assessor de Palocci, negando todas as acusações, inclusive a de que transportaria recursos da conta Amigo destinados ao ex-presidente Lula.
O depoimento desta quinta-feira foi a última cartada de Palocci na tentativa de sair da cadeia. Se não obtiver clemência no STF, certamente jogará a bomba. Mas o certo é que hoje Antônio Palocci ainda não é um delator.