Nunca faltaram “apenas” trinta, ou quarenta, votos para aprovar a reforma da Previdência. Esse número sempre foi muito maior, e a narrativa do “estamos quase lá” era uma estratégia para ganhar tempo, uma conversa para boi dormir. Qualquer um com um mínimo de experiência parlamentar sabe que o Planalto nunca esteve perto de aprovar essa reforma, apesar do discurso para os ouvidos do mercado.
O governo foi empurrando o assunto ao longo do ano passado até sua hora da verdade, que deve ser na semana que vem, escondendo o que todo mundo sabia: depois de livrar a cara de Michel Temer em duas denúncias no plenário da Câmara os deputados acham que estão quites e não devem mais nada a esse governo.
Agora, o maior problema das hostes governistas em relação a esse assunto é encontrar um culpado, de preferência o vizinho do lado. Em torno dessa versão a ser montada giram as divergências de hoje entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e os articuladores planaltinos. Maia não quer levar essa responsabilidade para casa, e por isso não quer submeter o projeto à votação, expondo a falta de votos na Câmara. Melhor não votar, diante da constatação de que não há votos – o que leva à conclusão de que o governo não conseguiu reuni-los.
No Planalto, porém alguns acham que seria melhor deixar a bomba estourar no plenário, expondo os partidos e deputados da base inclusive Maia e seus aliados. O problema dessa estratégia – que até dia 20 deve ser descartada – é óbvio: ao submeter a PEC à votação, o governo corre o risco de expor seu verdadeiro tamanho no plenário da Casa, mostrando que é muito menor do que jamais se poderia supor com base nos números mandrakes que seus articuladores exibiram até agora.