A oposição costuma agir como piranhas e tubarões, aqueles peixes que detectam um pingo de sangue na água e atacam. Há mais ou menos um mês, quando a reforma da Previdência foi entregue ao Congresso num clima razoavelmente favorável, ninguém pensou em fechar questão contra o projeto. De lá para cá, detectaram que as sucessivas crises e desencontros políticos do governo Bolsonaro tornaram mais complicada a aprovação da Previdência no formato proposto.
O PDT então puxou a fila e, nesta segunda, tomou a decisão radical de fechar questão – esquecendo-se até que seu candidato presidencial, Ciro Gomes, chegou a defender na campanha uma reforma com capitalização. É bastante provável que, nos próximos dias, PT, PSOL e até o PSB façam o mesmo. Fechar questão, é bom lembrar, não é apenas declarar que é contra – é uma medida de força, que ameaça com punição disciplinar seus deputados e senadores que votarem a favor.
O movimento da oposição mostra que seus partidos, embora minoritários nas duas Casas, perceberam que há rombos no casco do navio da Previdência, e detectaram sangue nas águas da suposta base aliada. Nem mesmo no partido do presidente, o PSL, há consenso em torno do projeto.
Se houvesse tendência de maioria a favor do projeto do Planalto, dificilmente os oposicionistas partiriam para confronto tão aberto. Se o fizeram, é porque perceberam que o projeto não sairá inteiro do Congresso e, no mínimo, sofrerá muitas mudanças atenuando os pontos mais duros. Evidentemente, PDT, PT e outros querem capitalizar essas alterações.
Quem esteve ontem na reunião da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, onde o projeto ainda nem chegou, perceberam isso ao vivo e em cores. Na audiência pública, a proposta da reforma da Previdência apanhou muito, sem que aparecesse uma viva alma governista para defendê-la da forma como foi elaborada. Todo mundo, inclusive o líder do PSL, Major Olímpio, bateu.