O anúncio precipitado e mal conduzido da reforma trabalhista ontem, com ênfase à possibilidade de uma jornada de trabalho diária de até 12horas, já impactou mais de 15 milhões de pessoas nas redes da Internet – quase todos, evidentemente, de forma negativa. Foi mais um incompreensível tiro no pé do governo, já que ninguém espera que as medidas que flexibilizam as leis trabalhistas sejam aprovadas logo. A PEC do teto e a reforma da Previdência estão à frente na lista das prioridades do Planalto.
Então por que o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, falou e deixou vazar o assunto em reunião com sindicalistas? Mais um mistério profundo, creditado por aliados de Michel Temer a uma descoordenação que transforma o governo numa Babel.
As mudanças estudadas não são necessariamente ruins. À primeira vista, não mexem com direitos constitucionais. Mas permitem que os acordos coletivos se sobreponham à CLT, abrindo espaço a contratações temporárias, por hora ou por serviço, que podem chegar a uma jornada de 12 horas diárias, desde que respeitado o limite de 48 horas semanais. Se bem explicada, na oportunidade adequada, não chega a ser assustadora.
O problema é que, na cabeça da maioria dos trabalhadores brasileiros, o diálogo entre trabalhadores e empregados é entendido como a conversa da guilhotina com o pescoço. O lado mais fraco sempre sai perdendo, sobretudo em tempos sombrios de desemprego.
Qualquer proposta que trate desse assunto, portanto, tem que ser anunciada com muito cuidado, ainda que seja um balão de ensaio. Ontem à noite, o ministro já foi procurado pelo Planalto para ensaiar um meio desmentido, o enésimo nesses poucos meses de governo. Aliás, o recuo da véspera já está nos jornais de hoje: a negativa de que o governo vai mexer nos saquea so FGTS, dificultando o acesso a trabalhadores demitidos.
Em meio a vaias, manifestações e um duro ajuste fiscal a ser deglutido pelo Congresso, Michel Temer podia ter passado sem mais essa.