Nos dias de hoje, o estelionato eleitoral começa até antes da eleição. Jair Bolsonaro, agora que se sente com a “mão na faixa”, começa a rever promessas, como a da estapafúrdia fusão dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Foi alertado por setores do agronegócio – e não pela UDR, que queria botar como titular da pasta – que tal movimento poderia prejudicar muito as exportações do setor, rigorosamente controlado por regulamentos externos relativos a práticas ambientais.
Também os ambientalistas reagiram, embora esse setor não tenha tanto prestígio assim com Bolsonaro. Mas, diante da possibildade de ver os produtos brasileiros rejeitados no exterior pelo não cumprimento de cláusulas ambientais, o candidato manifestou disposição para recuar. E há quem diga que a próxima desistência será na decisão de nomear o presidente da UDR como ministro, o que está está sendo muito bombardeado pelo setor do agro.
A fusão de Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio num superministério da Economia, comandado por Paulo Guedes, começa a fazer água também. Os setores ligados à indústria, como a CNI, não gostaram nada da ideia. Querem um ministério para chamar de seu, e tudo indica que vão ter.
A vida é assim. Nem sempre o que se diz em campanha pode ser cumprido. É sempre mais honesto avisar antes, embora não seja geralmente o que acontece. A promessa bolsonariana de reduzir a 15 o número de ministérios, por exemplo, já foi para o espaço.
Antes mesmo de confirmada a eleição de Bolsonaro no domingo, seus aliados começam a nomear e desnomear titulares para primeiro, segundo e terceiro escalões, num cenário de divisão do butim muito semelhante ao de outros governos. Entre eles, políticos de partidos tradicionais, como o DEM, que não conseguiram se eleger no dia 7.
Se Bolsonaro não ficar esperto, seu primeiro estelionato eleitoral será a quebra da promessa de acabar com o toma-lá-dá-cá e não governar com a “velha política”.