Ainda é cedo para se saber se teremos uma safra de bons prefeitos, mas sem dúvida temos bons marqueteiros no comando das principais capitais do país. Em sua primeiras horas no exercício do cargo, o prefeito de São Paulo, João Dória, e o do Rio, Marcelo Crivella, protagonizaram uma espécie de disputa para ver quem aparece mais, e melhor.
Doria anunciou o espetáculo e saiu na frente hoje cedo, vestido de gari e obrigando seu secretariado a pagar o mico de fazer o mesmo. Chegaram lá e a rua já estava varrida, o que, junto com as críticas óbvias e claras de quem sugere a Dória pendurar uma melancia no pescoço, provocou um certo anticlímax.
Crivella não quis ficar atrás e arrumou se última hora um programa impactante: amanheceu num hemocentro doando sangue, com convocação geral da imprensa. É o caso de se perguntar quantas vezes o prefeito já fez isso na vida e prestar atenção se esse gesto será feito rotineiramente. Só assim, vai mostrar que não é mais uma jogada de marketing.
Quase todos os prefeitos que assumiram ontem estão usando o marketing da austeridade, que é anunciar cortes draconianos se despesas e funcionários – o que, de modo geral, pode ser bom se as tesouradas não atingirem quem não devem, os mais vulneráveis.
O dia hoje teve até marketing involuntário, o de Rafael Greca, coitado, internado com embolia pulmonar. Ele havia sido liberado pelos médicos apenas para tomar posse – e, claro, aproveitou a ocasião para falar de seu enorme coração cheio de amor por Curitiba. Que melhore logo para assumir seu posto e divertir todo mundo, com seu conhecido temperamento gozador.
O que os primeiros atos dos prefeitos marqueteiros que chegam ao poder devem ensejar é reflexão e senso crítico. Na campanha e antes da posse, essa é uma ótima estratégia. A partir de agora, porém, fica difícil se sustentar com isso. O povo quer ações concretas, obras, serviços. Está cansado de espertezas.