É bom prestar atenção no ex-ministro e ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo, que acaba de lançar um manifesto suprapartidário pela união nacional e vai recolher assinaturas por todo o país. Filiado ao PCdoB, ex-ministro de Lula e de Dilma Rousseff, Aldo consegue a proeza de ser respeitado também à direita. É amigo do deputado Rodrigo Maia e auxiliou na articulação que permitiu a ele chegar à presidência da Câmara e virar sucessor temporário – e talvez definitivo – de Michel Temer.
Aldo ocupou pastas importantes, como a articulação política de Lula e a dos Esportes na época da Copa. Foi leal a seus chefes e torpedeado pelos petistas no governo. Não conseguiu nem o apoio do Planalto para ser escolhido pela Câmara para uma vaga no TCU. Mas escapou incólume da Lava Jato, e hoje é um dos poucos integrantes do velho regime pronto e preparado para integrar o novo, contribuindo com sua experiência.
O que diz o manifesto de Aldo, além de pregar a necessária e urgente união das forças políticas e da sociedade em torno de um projeto para o país? O texto é quase uma plataforma de governo, ainda que genérica. Tem, embora atenuado, um certo viés nacionalista do PCdoB, carrega bandeiras da esquerda como a prioridade ao combate à imensa e injusta desigualdade social, mas acena aos mais diversos setores, inclusive a direita.
Vejam só: “(o projeto de construção nacional) exige o afastamento de toda sorte de preconceitos motivados por ideologias e maniqueísmos, que se mostram insuficientes e limitados para permitir o entendimento da situação. Acima de tudo, é necessário abandonar a enganosa dicotomia entre Estado e Mercado, que tem servido apenas para mascarar a captura das estruturas do primeiro por coalizões de interesses particulares, substituindo-a por uma eficiente cooperação entre o poder público e a iniciativa privada, em prol do bem comum, como ocorreu e ocorre em todos os países que conseguiram enfrentar e remover os desafios no caminho do desenvolvimento duradouro e sustentável”.
Aldo disse a seus interlocutores que o lançamento do manifesto nada tem a ver com a cada dia mais possível ascensão de Rodrigo Maia à presidência – e nem com os rumores de que o ex-ministro seria seu nome preferido como vice na chapa de uma eleição indireta. Aldo Rebelo afirma que a proposta de união mira 2018, quando pelo menos o campo mais progressista deveria estar junto. Mas o movimento, a depender de sua receptividade, pode ter mil e uma utilidades.