A tarde de hoje passa à história também como uma das mais cruas demonstrações de como funciona o rolo compressor do poder, esmagando lealdades e relações pessoais. Ex-ministros, ex-fazedores de ministros e ex-puxa sacos hoje líderes de bancadas passaram momentos de saia-justa, mas não hesitaram em subir à tribuna para encaminhar a votação favorável ao impeachment.
De um modo geral, quase todos os que até ontem estavam com o Planalto recorreram ao velho e bom discurso da união nacional, que se presta a qualquer coisa, em qualquer momento. O peemdebista Leonardo Picciani, por exemplo, falou em responsabilidade com o país, vitória do povo brasileiroetc. Não fez a menor referência aos ministros que indicou e nem ao apoio do Planalto para retomada de seu posto de líder no fim do ano passado.
Aguinaldo Nogueira, ex-ministro das Cidades, foi voto vencido na bancada do PP e teve que encaminhar pelo impeachment. Mas não parecia desconfortável. Lembrou ter sido ministro: “não é porque fizemos sim hoje que vamos dizer não a ontem”. Mas completou que “o Brasil precisa retomar a normalidade e seguir em frente”.
Rogerio Rosso, ex-presidente da comissão especial e líder do PSD do demissionário Gilberto Kassab, chegou entusiasmado à tribuna, mostrando que vão longe os dias em que era amigo do Planalto. Hoje é candidatissimo à presidência da Câmara.
O líder do PSB, Fernando Coelho Filho, é filho do ex-ministro da Integração De Dilma, Fernando Bezerra Coelho. Bateu sem dó nem piedade, afirmando que a presidente da República perdeu a autoridade e a credibilidade para liderar uma agenda para tirar o Brasil da crise.
Boa parte dos ex-governistas destacou não ter nada pessoal contra a presidente da República, ressalvando sua seriedade. Quase ninguém falou de pedaladas. Ainda assim, defenderam ardorosamente o impeachment.