O veto parcial ao projeto que trata das dívidas dos estados, preservando renegociações que já estão em curso mas suspendendo a recuperação fiscal dos que, em pior situação, precisam suspender os pagamentos pode ter sido uma boa solução. Mas as idas e vindas do veta-não- veta do presidente Michel Temer mais uma vez passaram, desnecessariamente, uma imagem de indecisão e fraqueza.
No dia seguinte à votação da Câmara que retirou do projeto as contrapartidas de ajuste fiscal dos estados, Temer tomou café com jornalistas e minimizou a derrota, afirmando que sua tendência era sancionar o projeto. A esta altura, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendia o veto.
Para surpresa geral, na terça-feira Temer se reuniu com a equipe econômica e as fontes palacianas e da Fazenda passaram a informar os jornalistas que a proposta seria inteiramente vetada – informação que foi parar nas manchetes dos jornais. Poucas horas depois, já no início da tarde, veio o recuo do recuo: o veto é parcial.
Michel e sua equipe perderam uma boa oportunidade de passar a ideia de firmeza e coerência nesse episódio. Passaram, isso sim, uma impressão de divisão interna e insegurança. Segundo interlocutores do presidente. As cabeçadas te origem no afã de ministros e outros integrantes do governo, que não se seguram e querem ser os primeiros a dar a notícia à imprensa – mesmo quando ela não está confirmada.
Diariamente, o Governo dá sinais de desarticulação em seu discurso. A semana começou, por exemplo, com interlocutores de Temer contando aos jornalistas – sempre em off, é claro – que o Planalto está preocupado com o julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer no TSE. E que a estratégia será adiar a decisão da Corte até que dois de seus ministros sejam substituídos por outros indicados pelo presidente, em maio. Evidentemente, uma estratégia que não se revela.
É bom lembrar que o peixe morre pela boca. Há desgastes que são necessários. Outros, como os recuos dos recuos dos recuos, poderiam ser evitados.