A exemplo do que fez outro dia, quando participou da merecida homenagem ao humorista Carlos Alberto da Nóbrega, Jair Bolsonaro resolveu ir de novo ao Congresso. Não vai levar o projeto de ajuda federal aos estados, nem negociar a Previdência, nem agradecer aos senadores que votaram a medida provisória contra fraudes no INSS. O presidente está indo ao Congresso levar um presente aos motoristas infratores.
Apesar da profusão de projetos de interesse do governo que estão sendo mandados ao Legislativo, ou então já estão sendo discutidos, Bolsonaro escolhe a dedo aqueles que parece considerar mais importantes para levarem sua digital e serem entregues em mãos. Socorro aos estados, reforma tributária? Nada disso.
Importante para o presidente da República, neste momento, é a proposta que eleva de 20 para 40 pontos a exigência para perda da carteira dos infratores de trânsito e prorroga do prazo de vigência da Carteira de Habilitação de cinco para dez anos. São propostas controversas que, segundo especialistas, afrouxam as regras de segurança no trânsito e, certamente, colocarão mais vidas em risco. Mas, na linha da flexibilização do porte de armas e outras, agradam ao núcleo duro do bolsonarismo.
Cada governante tem as suas prioridades, mas as de Bolsonaro são políticamente arriscadas. Sob o ponto de vista dos que estão fora da bolha bolsonarista, e até do bom senso, essa pauta de abobrinhas está longe de ser de fato importante para a grande maioria. Emprego, educação, saúde? Tirando suas conotações ideológicas, parecem ser preocupações remotas na cabeça presidencial.
O risco de Bolsonaro é que, de tanto tratar de pautas supérfluas, acabe, ele próprio, se tornando supérfluo. É só olhar em volta. As principais lideranças do Legislativo, de governo e de oposição, os empresários, os governadores, as centrais sindicais, os estudantes, estão todos tratando de assuntos mais importantes, que vão da Previdência aos cortes no orçamento da Educação.
Mas aquele que deveria liderar esse debate, apontar rumos, arbitrar disputas, está mais preocupado com os pontos que levou na carteira de motorista. Pode ser, se assim lhe parece. Só que o mundo não pára enquanto Bolsonaro corre pelas estradas sem habilitação. As instituições políticas parecem estar aprendendo a debater, discutir e aprovar projetos e medidas sem ele. Ou apesar dele.