Carnaval nunca combinou com repressão, e a mistura de polícia, bombas de gás lacrimogêneo e foliões apavorados em desabalada correria neste domingo, no Rio, é um dado novo. A polícia parece ter feito no asfalto de Copacabana o que faz quase todos os dias nas favelas. Cheias de moral, as forças de segurança bancadas pelo trio Bolsonaro-Witzel-Crivella — que não gosta de Carnaval — mostraram quer ainda pode vir muita pancadaria, e reações, nesse reinado de Momo.
Vai ser um carnaval politizado na Marques de Sapucaí e, provavelmente, fora dela, nos blocos que tomam conta da cidade. O samba-enredo da Mangueira, por exemplo, fala em Jesus ao lado dos pobres e oprimidos e contra intolerância. Qualquer semelhança não será mera coincidência. Outras escolas também vão fazer referências políticas.
A presença de 300 mil no Bloco da Favorita no domingo mostrou que a turma está animada. A confusão que houve depois, quando a Polícia lançou bombas de gás para dispersar a multidão, mostrou que o lema do carnaval poderá ser o velho “pode vir quente que eu estou fervendo”. No que vai dar, ninguém sabe.
Não interessa, nem às autoridades, nem à mídia — e nem à população — conspurcar a mais popular festa brasileira, fonte de recursos e foco de turismo, interesses comerciais e, por que não?, de alegria. Mas a mistura de governantes autoritários e retrógrados, forças de segurança sem freios e população frustrada e insatisfeita pode resultar numa receita explosiva no Carnaval de 2020.