Por que só “Mamãe Damares” pode?

Impedir que jovens presidiários recebam camisinhas vai na contramão das campanhas de prevenção à Aids, as quais destacaram o Brasil mundialmente

Ministra de Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A autointitulada ”Mamãe” Damares vive no mundo da Lua. Exceto para si própria.

Não preciso aqui repetir as maluquices que já saíram de sua cachola, sem mais nem menos, desde que foi indicada ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Mas, até agora, nada que me fizesse sair do meu canto para repelir, com indignação, suas ideias.

Ideias? Agora, ela, que por diversas vezes andou dizendo a quem quisesse ouvir que estaria procurando marido, do alto de seus 55 anos bem vividos, ousa pôr em risco a saúde de jovens encarcerados, vedando-lhes o acesso a preservativos.

Crê Sua Excelência que penitenciárias estão repletas de querubins e serafins assexuados? Para os jovens em geral bastaria o apelo à adesão à abstinência sexual, pura e simplesmente, para evitar gravidez indesejável ou refrear impulsos humanos de quem está em fase de ebulição hormonal?

Para que quer Sua Excelência um marido? Se é para ela assim tão fácil que os outros – os jovens – não pratiquem sexo, por que não abster-se, já está em fase muito mais adequada a nada fazer ou satisfazer a si própria sozinha?

E olha que não sou daquelas para quem o sexo deva ser orientado por padrões. Ao contrário, sou das que cantarolam com Milton Nascimento que “toda forma de amor vale a pena, toda forma de amor valerá”…

Movem-me agora apenas as estatísticas de aumento indiscriminado de grávidas portadoras de HIV. Segundo o Ministério da Saúde, o número de gestantes contaminadas cresceu cerca de 37% em 10 anos.

E olha que o Brasil sempre foi reconhecido como pioneiro em relação ao combate à AIDS, desde que o então ministro da Saúde, José Serra, no governo FHC, ousou quebrar as patentes de remédios do coquetel adotado para prorrogar a vida dos que seriam ceifados por aquele flagelo, como já o fora o saudoso Cazuza.

Se essa doidivanas continuar com suas maluquices, vou começar a pregar que sejamos todos protegidos cautelarmente por um juizado de garantias. Estamos todos sujeitos à exposição de riscos por esse tipo de incúria.

Bom seria que o Ministério Público se empenhasse em neutralizar, desde logo, quem se conduz de forma a difundir a morte e a doença entre jovens brasileiros. Que esses não caiam no conto do vigário que só não serve para ela própria.

Deus há de me ouvir!

Sandra Starling é advogada e mestre em Ciência Política pela UFMG

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