Foi absurdo, criminoso, injustificável e troglodita o atentado cometido contra Jair Bolsonaro, e toda a comoção que tomou conta do país desde quinta-feira tem razão de ser. Mas agora, que a poeira vai baixando, é preciso olhar as coisas com um pouco mais de serenidade e sensatez. Por mais que o candidato do PSL tenha ganhado exposição como vítima dessa brutalidade, e que por isso possa até angariar simpatia e alguns votos, a normalidade da recuperação do deputado vai mostrar o que, a princípio, pode parecer uma obviedade: Bolsonaro é Bolsonaro.
A primeira foto do candidato sentado depois da gravíssima operação que sofreu para corrigir as consequências da facada mostra isso mais do que nunca: com sua vestimenta hospitalar, ligado a tubos, Bolsonaro fez com as mãos o gesto armado que gosta de repetir. Ou seja, ainda é o mesmo, mesmíssimo de sempre. Parece que não aprendeu nada.
Desgraças e infortúnios da vida geram solidariedade e muitas vezes deixam lições e mudancas em quem as sofre. Muitos se indagavam se, desse triste episódio, não poderia sair um novo Bolsonaro, mais ameno, menos belicoso. Aliados, como o vice Hamilton Mourão, chegaram a afirmar ter recebido dele orientação para que adotassem, a partir de agora, uma linha mais moderada, menos raivosa.
Não tem nada de moderado, porém, no gesto armado que ele faz questão de mostrar na primeira foto.
Fica difícil, para qualquer candidato, bater num sujeito que ainda se encontra em estado delicado, hospitalizado por conta de uma facada. Geraldo Alckmin, por exemplo, mandou recolher todo o material que batia em Bolsonaro e abriu sue horário eleitoral deste sábado se solidarizando com ele e sua família e defendendo a pacificação.
As próximas pesquisas estão sendo aguardadas com ansiedade e muita gente espera crescimento de Bolsonaro. As previsões chegam a apontá-lo garantidamente no segundo turno depos de toda essa exposição. Mas é cedo para se dizer se a solidariedade diante da violência sofrida vai se traduzir em votos duradouros, sobretudo junto a uma fatia mais moderada do eleitorado, indo além daqueles 20% que já estavam com ele por suas qualidades e defeitos.
Nas campanhas adversárias, estrategistas tentam acalmar seus candidatos argumentando que, à medida em que Bolsonaro for se recuperando – e todos rezam para isso com total sinceridade , o sentimento de muita gente que hoje pode estar impactada pelo atentado se atenuará. Sobretudo quando Bolsonaro voltar a se mostrar como Bolsonaro – como já fez neste sábado.