Foram para lá de modestas as manifestações deste domingo a favor da Lava Jato e contra a anistia ao caixa 2, o foro privilegiado e a lista fechada. O Planalto respirou aliviado porque escapou de um “Fora Temer” mais retumbante. E os políticos citados na Lava Jato também, pois poderia ter sido muito pior.
Afinal, a opinião pública é claramente contrária às manobras que o Congresso está louco para fazer para livrar a própria cara, mas isso não foi o suficiente para tirar boa parte das pessoas de casa para mais um protesto dominical.
A pauta dispersa, que chegou a incluir temas exóticos como mudanças no Estatuto do Desarmamento, não empolgou os coxinhas desta vez. Acima de tudo, porém, a classe média que há um ano ocupou a Paulista para defender a Lava Jato e pedir o impeachment de Dilma Rousseff parece viver hoje um sentimento de decepção – com o governo que colocou no lugar, com a economia que não melhorou, e até com instituições como a Polícia Federal, que passou a semana apanhando pela pirotecnia promovida na Carne Fraca.
Evidentemente, a maioria do país continua apoiando a Lava Jato. O juiz Sergio Moro também não perdeu sua aura de intocabilidade, mas já é alvo de críticas como no caso do blogueiro levado em condução coercitiva semana passada. Talvez a transferência de boa parte das emoções da operação de Curitiba para Brasília, com seu ritmo mais lento e as sucessivas jogadas dos políticos para escapar, além de um inevitável e natural esgotamento, tenham tirado o ânimo das ruas. Pelo menos à direita.
Por outro lado, o aparente desânimo dos “coxinhas” pode marcar um quadro de revitalização dos “mortadelas”, que levaram muita gente às ruas em seu último protesto, no dia 15, contra a reforma da Previdência. Ainda que tenha sido promovido por movimentos sociais e centrais sindicais que colocaram a militância nas ruas, o protesto das esquerdas, que paralisou transporte e escolas, teve muito mais impacto do que o deste domingo. Até porque as mudanças na aposentadoria, que mexem com a vida de cada um, constituem tema bem mais pulsante.
É impossível prever o que vai acontecer, que pode ser até mesmo nada. Mas alguma coisa mudou na dinâmica das ruas.