Não vai ter trégua, Onyx. O mecanismo segue operando

Onix Lorenzzoni. Foto Orlando Brito

Nunca antes na história deste país um presidente eleito conseguiu tanta mídia negativa antes de tomar posse quanto Jair Bolsonaro esta semana. Dos grandes jornais à TV Globo, sem falar nos portais e redes sociais, o caso Coaf tomou conta do noticiário a partir do vazamento do relatório sobre a movimentação bancária suspeita do ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj, Fabricio Queiroz.

Mostrando pouco traquejo, e até falta de equilíbrio emocional para lidar com a crise – o futuro ministro Onyx Lorenzoni abandonou uma entrevista botando o dedo na cara dos jornalistas- Bolsonaro e seus assessores podem até tentar culpar a grande mídia e acusar os jornalistas de perseguição, mas não terão como sustentar esse argumento por muito tempo. 

A descoberta vem da investigação filhote da Lava Jato que prendeu dez deputados estaduais do Rio por esquemas de propina e outros crimes na Alerj. Foi lá que o Coaf descobriu a movimentação de R$ 1,2 milhão na conta do assessor, na qual sete outros assessores do senador eleito fizeram depósitos e da qual teriam saído cheques para a futura primeira dama Michelle Bolsonaro.

Sem entrar no mérito da denúncia em si, que poderá ou não ser explicada satisfatoriamente pelos Bolsonaro, há uma constatação inevitável em sua divulgação: o mecanismo, que se não foi inventado em Curitiba foi lá consolidado como modelo de gestão de investigações pela Lava Jato, continua funcionando a todo o vapor. E não há o menor sinal de que vai parar depois da eleição de Bolsonaro.

Esse mecanismo tem como pilar importante a divulgação, ou o vazamento, de informações, relatórios (como esse do Coaf), trechos de depoimentos de delatores quase sempre comprometedores para os políticos que estão no alvo – que, culpados ou inocentes, ficam sabendo pela mídia. E o roteiro sempre segue a partir daí: noticiário, abertura de inquérito, denúncia e, claro, a desmoralização da política.

Esse foi, aliás, um dos componentes importantes da eleição de Bolsonaro: o voto antipolítica e anticorrupção. Mas o mecanismo continua vivo e, mais cedo do que se imaginava, volta-se contra ele e os seus.

Ao nomear o juiz Sérgio Moro para comandar a Justiça, com superpoderes para combater a corrupção, o presidente eleito apertou ainda mais a armadilha na qual agora se encontra

 Não pode questionar as investigações e nem seus comandantes, não poderá sequer pedir algum alívio à Polícia Federal, ao Coaf ou a quem quer que seja.

O futuro ministro Onyx, ele mesmo alvo numa acusação de caixa 2, ficou nervoso e chegou a pedir trégua à imprensa. Não vai haver trégua, Onyx. Sempre haverá um agente público disposto a vazar uma informação que comprometa alguém, e sempre haverá um jornalista pronto a publicá-la antes da concorrência. E o público acostumado a esse cardápio pedindo sempre mais. Apertem os cintos.

 

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