Uma mesa da noite brasiliense desta quarta-feira juntou a perplexidade de um grupo de políticos de amplo espectro – do PSD à Rede – em torno da denúncia da Força Tarefa curitibana contra o ex-presidente Lula. Suspenderam a conversa para assistir ao Jornal Nacional em seus celulares. Todos acham que Lula e o PT estão no sal, e que o ex-presidente difícilmente deixará de ser condenado e ficar inelegível.
Mas, surpreendentemente, todos – incluindo os adversários do ex-presidente – concordaram na avaliação de que o procurador Deltan Dallagnol exagerou, no tom e no conteúdo. Ficou clara a divisão da denúncia em duas partes: uma, a que atribuiu a Lula o papel de comandante, general e maestro de um megaesquema de corrupção, mas sem provas consistentes dessa atuação; outra, a demonstração de que ele recebeu favores de empreiteiras, difícil de contestar mas insuficiente para caracterizar ou provar que era de fato o comandante da propinocracia.
Este termo, aliás, foi o principal alvo das críticas dos políticos, que acham que a Força Tarefa generalizou perigosamente e criminalizou, sem distinção, todas as indicações políticas para cargos públicos ou em estatais. Se se trata de uma propinocracia, todo mundo que nomeia ou que é nomeado recebeu ou pagou propina.
Ou seja, o tiro do canhão pode ir muito além de Lula e inviabilizar saídas que estavam sendo articuladas por políticos acusados da Lava Jato via caixa 2…