É sutil a diferença entre pedir recursos para campanha eleitoral e pedir recursos para campanha eleitoral no caixa 2. Mas esse será o cerne da defesa de um monte de políticos – entre eles o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves – que, na impossibilidade de negar que pediram ajuda financeira à Odebrecht, dada a realidade dos depoimenros de seus executivos, correm agora para admitir que o fizeram, mas em nenhum momento admitindo recebê-los no caixa 2. Acredite quem quiser. A única certeza é que chegou a hora do vale tudo para escapar da chapa-quente da Lava Jato, que vai ferver nas próximas semanas.
A única alternativa do establishment politico e dos principais partidos, que, democraticamente, estão sendo igualmente atingidos nas delações, é apostar na narrativa de que pode haver grandes distinções entre caixa 2 e caixa 2 – assim como há entre corrupção e caixa 2, propina e doação eleitoral.
O próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, contra quem nada apareceu na Lava Jato, saiu esta semana de sua cômoda posição para a linha de frente da defesa do PSDB para ajudar a lapidar essa tese. Em nota em defesa de Aécio, citado por Benedito Junior, afirmou que há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa 2 para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que, segundo ele, precisa ser reconhecido e reparado, daquele que obteve recursos para “enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção”.
Esse argumento será incansavelmente repetido a partir de agora, e nao só pelos tucamos, mas por todos os partidos e políticos. O que importa agora, para eles, é entrar na barca do caixa 2, que pode abrigar tanto os que dizem ter pedido dinheiro sem saber que ele seria pago no caixa 2 quanto os que admitem esse delitos mas fazem questão de separá-los de atos de corrupção e cobrança de propina.
Por enquanto, justa ou injustamente, está tudo junto e misturado, nos depoimemtos das delações e na mídia. Como o Congresso não conseguiu aprovar até agora uma anistia ou coisa que o valha, caberá ao Judiciário, sobretudo ao STF, separar o joio do trigo, se conseguir, e decidir o destino dos principais personagens da política brasileira.